Breve Reflexão Idiossincrática de Minha Vida

O que sou hoje devo a minha intuição de escolher uma rota quando me encontrava em uma encruzilhada. Assim aconteceu quando eu tive de escolher entre trabalhar e estudar, em 1951, trabalhando na Casa Concórdia, para ajudar nas despesas de casa, e estudando no CEPC, resolvi estudar, o que foi aceito pela minha mãe, mas meu pai ficou preocupado. Outra escolha intuitiva que fiz foi a de namorar com a Célia, depois de uma indecisão, pois não acreditava que a filha de um intelectual gostasse de mim. Mas, depois de alguns meses de indecisão, em novembro de 1957, resolvi telefonar para o número 1246, que era o número do telefone da casa dela, e marcarmos um encontro. Logo no primeiro encontro, disse-lhe que era filho de sapateiro e de lavadeira e que usava uma peça dentária. Felizmente nosso grande amor mútuo fez nos unirmos até hoje. Foi graças a essa nossa união que sou o que sou hoje, pois foi na casa de meu sogro que vi o que era ser um intelectual, já que as minhas leituras eram apenas técnicas (eu era estudante de engenharia civil quando a conheci) e de entretenimento: gibis. É oportuno destacar que meu bem querer (paixão!?) pela Célia me fez brigar com o meu pai quando estava noivo com ela. Por ocasião de um almoço que fazia em casa, quebrei o prato em que estava comendo e saí de casa (morava na São Pedro). Logo depois, quando me encontrava na Padre Eutíquio, voltei para casa arrependido.
Minha segunda intuição foi quando escolhi ter uma vida acadêmica e não uma vida profissional, misturada com a profissão de professor. Essa decisão ocorreu em 1965 quando fui para a Universidade de Brasília (UnB) estudar Física. Mais uma vez contei com o nosso grande amor (em minha ausência, a Célia foi assediada por, possivelmente, colegas meus) e com a ajuda de meus sogros/pais, Seu Machado e Dona Celina, que ficaram com a Célia e com nosso primeiro filho, o Jô. A partir daí, passei a morar com eles até a morte deles: Dona Celina (1990) e Seu Machado (2001). Nesta escolha, desta vez, tive o apoio do meu pai e certa apreensão de minha mãe.
Minha luta para ter uma vida acadêmica foi cheia de percalços, como o término da UnB (para onde fui em março de 1965), quase no final de 1965, e a interrupção de meus estudos pós-graduados na Universidade de São Paulo (USP), para onde fui em março de 1968. Essa interrupção ocorreu por causa do AI-5, em 13 de dezembro de 1968. Em decorrência desse Ato, fui preso em São Paulo, fichado como comunista pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), o que resultou em minha cassação branca, ou seja, fui impedido de sair do país para fazer o Mestrado na França, em 1972, e o Doutorado, também na França, em 1974. Em vista disso, fiz o Mestrado e o Doutorado na USP, respectivamente, em 1973 e 1975.
Esse impedimento político-ideológico me fez fazer uma terceira escolha, qual seja, a de lutar na Universidade Federal do Pará (UFPA), na qual entrei em agosto de 1961 (sem concurso, pela necessidade de ter algum professor que ensinasse Física Matemática) e fiz o Concurso Público para Titular, em novembro de 1989. Nessa minha luta pela melhoria do ensino e da pesquisa na UFPA, tive uma participação ativa na criação do atual Instituto de Geociências (1962/1972), na criação da FADESP (creio que em 1972), na criação da Academia Paraense de Ciências (1982), na eleição do Nilson Pinto para Reitor da UFPA (1985), no Mestrado em Física da UFPA (1985) e na criação da atual FAPESPA, em 1989. Tento, desde 1973 até hoje, criar um Instituto de Ciência e Tecnologia para estudar e resolver os problemas do Estado do Pará, visando o seu desenvolvimento para promover o bem estar do povo paraense.
Nessa minha saga, finalizada em 10 de setembro de 2005, atingido pela compulsória, tive vários atritos com Reitores e com administradores da UFPA (em virtude de meu temperamento entre “tapas e beijos” como diz uma música sertaneja), promovi Cursos de Extensão e Especialização para Professores do Ensino Médio e Ensino Superior, ministrei vários cursos, quer no Centro Tecnológico, quer no Departamento de Física, escrevi livros, publiquei artigos científicos e de divulgação científica, e proferi várias palestras em Belém e no Brasil e, hoje, continuo meu trabalho de pesquisa “dura” (formalismo) e “molhe” (crônicas), criei um blog para discutir temas polêmicos, quer científicos, quer políticos, cuja relação se encontra em minha HP: bassalo.com.br, assim como detalhes dessa minha vida idiossincrática.
Finalizando essa breve reflexão sobre minha vida, é oportuno destacar que, se houve desmandos nas coisas que criei e nas pessoas que ajudei, eu não tive nada com isso, já que nunca fui convidado a participar de qualquer escalão das Instituições Públicas e não tenho o dom de prever o futuro.

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