40 ANOS DE UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

MAGISTÉRIO

40 ANOS DE UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

No dia 16 de agosto de 2001 completarei 40 anos de ingresso na Universidade Federal do Pará (UFPA) para fazer parte do Corpo Docente do então recém-criado Núcleo de Física e Matemática (NFM).

Por ocasião da comemoração de meus 25 anos de Doutoramento em Física, descrevi alguns aspectos de minha saga como físico e como professor e pesquisador na UFPA.[1] Agora, complementarei essa descrição, apresentando outros relatos dessa saga.

O meu primeiro contato com a UFPA aconteceu no dia 2 de julho de 1957 quando ela foi criada (como Universidade do Pará) pela Lei número 3.191, sancionada pelo então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK). Sua instalação ocorreu no Teatro da Paz, no dia 31 de janeiro de 1959, com a presença do Presidente JK, do então Governador do Estado, Coronel Joaquim Cardoso de Magalhães Barata, e de outras autoridades.[2] Naquele 2 de julho, eu era aluno do Curso de Engenharia Civil na então Escola de Engenharia do Pará (EEP), que era mantida pelo Governo Estadual.[3,4]

Logo que entrei no NFM, por indicação de meu prezado amigo, professor Manoel Leite Carneiro, comecei a lecionar a disciplina Física-Matemática para alunos do 4o. ano do Curso de Bacharelado em Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Por quase um mês ministrei aquela disciplina sem nenhuma remuneração. Como não poderia permanecer nessa situação, afastei-me do NFM, e só voltei depois que fui “credencializado na qualidade de instrutor, na base de cinqüenta (50) horas mensais’’, em 15 de setembro de 1961. (Observe-se que ensinei Termodinâmica, em vez de Física-Matemática, conforme se pode ver na Nota [1].)

Em fevereiro de 1962, freqüentei, com professores do NFM, o Curso de Extensão Universitária intitulado Matemática Aplicada à Física e Introdução à Física Atômica ministrado pelo então Bacharel em Física pela Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), o paraense Carlos Alberto Dias. Esse Curso iniciou com vinte (20) professores-alunos e terminou com cerca de cinco (5), sendo eu um deles. A evasão deveu-se ao fato de alguns professores-alunos não concordarem com a forma como o Dias apresentava os conteúdos das aulas. Essa discordância foi manifestada pelo então Reitor José Rodrigues da Silveira Netto na ocasião em que o Dias foi-lhe apresentar seus votos de despedida. (Registre-se que, para manifestar a importância do Curso que o Dias acabara de ministrar, os professores-alunos que o concluíram ofertaram-lhe um relógio de pulso.[5,6])

Terminado o Curso do Dias,[7] que havia conhecido no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) (este funcionava ao lado da Igreja Nossa Senhora de Nazaré), ele e eu idealizamos um plano de formação de paraenses que pudessem promover o desenvolvimento da Amazônia. Eu selecionava alunos no Colégio Estadual “Paes de Carvalho’’ (CEPC), onde eu lecionava Física, para irem ao Rio de Janeiro fazer vestibular e cursar Física e Geologia. Assim, por alguns anos, mandamos vários alunos para aquela cidade, dentre os primeiros, destaco José Seixas Lourenço,[8] José Ricardo de Souza, Raimundo Netuno Nobre Villas, Herberto Gomes Tocantins Maltez, Gabriel Guerreiro, Romualdo Homobono Paes de Andrade, João Batista Guimarães Teixeira, Sérgio Cavalcante Guerreiro, Clivar Antônio Lima de Lima, José Haroldo da Silva Sá, Bernardino Ribeiro de Figueiredo e Carlos Alberto Lobão da Silveira Cunha. Alguns deles com Bolsas de Estudo da antiga Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) ou do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Na continuação desse ambicioso plano, tivemos algumas dificuldades na SPVEA. Por exemplo, certa vez, uma alta personalidade desse órgão amazônida (deixo de enunciar seu nome, por não haver um documento oficial sobre essa negação) negou uma bolsa de estudos para o paraense Antônio Gomes de Oliveira, por achar que “a Amazônia não precisava de físicos nucleares’’. Por sua vez, o saudoso Djalma Batista, do INPA, sempre apoiou nosso projeto sem nenhuma restrição.[9]

No primeiro semestre de 1962 voltei a ministrar a disciplina Física-Matemática. No segundo semestre, em virtude de doença do professor Djalma Montenegro Duarte, que ministrava a disciplina (cadeira, como se chamava na ocasião) Física 2 para o segundo ano do Curso de Engenharia Civil, fui designado para substituí-lo. Comecei, então, ensinando temas sobre Eletricidade, Magnetismo e Óptica Física, que faziam parte do programa daquela disciplina. Como fui criticado pelos alunos e, também, por alguns professores, por “ensinar coisas que não sabia’’ (no caso, Óptica Física), deixei de ministrar a referida disciplina.

Ainda em 1962, aconteceu um dos fatos mais importantes para a minha formação em Matemática: um curso extra dado pelo saudoso Professor Ruy da Silveira Britto, sobre Espaços Vetoriais, tendo como base o livro Finite-Dimensional Vector Spaces, de Paul R. Halmos (D. Van Nostrand, Inc., 1958). Desse curso participaram, também, os professores do NFM e meus estimados amigos: Manoel Leite, Manoel Viégas Campbell Moutinho, Rui dos Santos Barbosa e o saudoso Leão Samuel Benchimol. (Recordo-me que, algumas vezes, parávamos as aulas para assistir ao Brasil ser bicampeão de futebol do mundo, no Chile, com as excepcionais atuações de Garrincha e de Amarildo. Pelé havia se machucado logo no início dessa Copa do Mundo.)

Em 1963, continuei ministrando a disciplina Física-Matemática e, também, a disciplina Física 2 para o segundo ano do Bacharelado em Matemática. Foi por essa ocasião que deduzi, pela primeira vez, as equações de Maxwell, usando o formalismo dos operadores vetoriais (gradiente, divergente, rotacional e laplaciano) em vários sistemas de coordenadas, ensinados em aulas extras, ministradas aos sábados de manhã. Devido a essa minha atitude, fui solicitado, por intermédio de um Memorando de 10/10/1963, enviado pelo próprio Coordenador do NFM, professor José Maria Hesketh Conduru, a dar explicações sobre o programa da disciplina que estava ministrando, para que “os alunos não devam ter motivos, por mínimo que sejam, para reclamações ou observações depreciativas’’. (Note-se que, ainda em 1963, o Professor Ruy Britto voltou a nos ministrar um curso extra sobre Teoria da Medida. Desta vez, ele usou as Notas de Aulas do curso que tivera no Instituto de Matemática Pura e Aplicada, no Rio de Janeiro.)

Em março de 1964, houve um incidente entre alguns professores do NFM (eu, Manoel Leite, Moutinho, Antonio (Tom) Borges Leal, Rui Barbosa, Raymundo Menezes Gonçalves Bastos, e os saudosos Leão Samuel Benchimol e Mário Tasso Ribeiro Serra) e o Coordenador do Núcleo. Esse incidente, registrado em documentos assinados por esses professores, decorreu do fato de que, como éramos apenas Instrutores de Ensino Superior, mas responsáveis de fato pelo ensino das disciplinas que ministrávamos, não recebíamos crédito por este ensino. Achávamos que essa situação não deveria mais continuar. Além do mais, exigíamos melhores condições de trabalho, pois o local onde se situava o NFM, na atual Avenida Magalhães Barata (onde hoje funciona o Colégio Pequeno Príncipe), não dispunha de espaço suficiente. Por exemplo, dávamos algumas aulas em um corredor que se situava em frente aos sanitários. Para dirimir esse incidente, houve a intervenção do Reitor, professor Silveira, culminando com a substituição do professor José Maria Conduru pelo professor Djalma, na Coordenadoria do NFM, e com a construção de salas de aula no quintal do prédio do NFM, sendo os responsáveis por essa obra eu próprio e o Bastos, que éramos engenheiros civis e atuantes. (Recordo-me que usei o meu Mestre-de-Obras, Haldone Fonseca, para realizar essa construção.)

Registre-se que esse incidente teve seqüelas. Com o “golpe Militar” de 31 de março de 1964, o Tom Leal foi transferido para a EEP, e houve tentativa de, também, transferir a mim e ao Mário Serra, possivelmente, para essa mesma Escola. Contudo, a interferência do professor Djalma[10] impediu que isso acontecesse. Mais tarde, em 1966, ocorreu a minha transferência para o Curso de Arquitetura, conforme veremos adiante.

Ainda nesse ano de 1964,[11] voltei a ser designado para ministrar a “cadeira’’ Física 2 para o Curso de Engenharia Civil. No entanto, as velhas divergências com os alunos sobre o cumprimento do programa levaram-me a ser substituído, no segundo semestre, pelo professor Jurandyr. Desse modo, passei a lecionar a “cadeira’’ Física 1 para futuros engenheiros civis.

Em 1965, fui para a Universidade de Brasília (UnB) para estudar Física.[12] No entanto, a interrupção da UnB por interferência do Governo Militar Brasileiro trouxe-me de volta a Belém, para o NFM, em outubro de 1965.[13] Como estava quase no final do ano letivo, minhas atividades de docente do NFM foram preenchidas com um Curso extra que ministrei para professores sobre Cálculo Avançado (tomei como base o Advanced Calculus, de Wilfred Kaplan, editado pela Addison-Wesley Publishing Company, Inc., 1959).

No começo de 1966, Mário Serra[14] e eu organizamos uma série de palestras sobre temas atuais de Física e de Matemática. Por exemplo, eu apresentei, no dia 25 de fevereiro desse ano, uma palestra inédita sobre a Teoria da Relatividade Especial e suas Conseqüências. Foi ainda em fevereiro de 1966 que esteve em Belém o professor Ubirajara Alves para ministrar, para nós, professores do NFM, um Curso sobre Variedades Diferenciáveis.[15]

Quando as aulas do NFM iam ser iniciadas, em março de 1966, houve o incidente que provocou minha transferência para o Curso de Arquitetura. No final de fevereiro recebi um comunicado oral da Coordenaria do NFM informando que iria ministrar a “cadeira’’ Mecânica Teórica e que, no entanto, não poderia creditá-la em meu currículo. Como voltara à mesma situação de 1964 quando havíamos denunciado essa prática no NFM, conforme registrei, recusei-me a ensinar aquela disciplina. No dia 2 de março, ao chegar ao NFM, recebi a Portaria número 205/66, assinada pelo Reitor Silveira, “lotando-me no Curso de Arquitetura como Professor Assistente, nível 20, até ulterior deliberação’’.

Um dia, quando estava no Curso de Arquitetura, que funcionava no challet de ferro, no início da Avenida Almirante Barroso, li nos jornais da época que, no segundo semestre do ano em curso, viriam para o Núcleo de Geociências de nossa Universidade (que funcionava na Travessa 3 de Maio, próximo do NFM) alguns professores franceses e, dentre eles, a professora Anné Bauman, formada em Física pela Universidade de Paris. Assim, em julho de 1966, ao saber da chegada dessa professora, fui falar com ela e sugeri que ela ministrasse um Curso de Eletromagnetismo para os professores do NFM. Como havia feito esse Curso na UnB com o Professor Jayme Tiomno, usando as Monografias de Física (CBPF, 1963/1965) escritas por ele e intituladas Teoria Eletromagnética I, II, III, perguntei-lhe se não poderia auxiliá-la, resolvendo os exercícios desses textos, já que ela não dominava bem o português. Ela aceitou a proposta.

Assim, comecei a resolver exercícios à medida que a professora Anné ia desenvolvendo a teoria. Num certo dia, usei coordenadas cilíndricas adequadas e únicas para resolver o problema do potencial elétrico de uma distribuição cilíndrica de cargas elétricas. Em virtude disso, alguns alunos-professores fizeram crítica de minha postura, achando que eu estava me exibindo, pois o mesmo problema poderia ser resolvido em coordenadas cartesianas. Em vista disso, a audiência do curso foi diminuindo e fui responsabilizado pelo seu fracasso, conforme foi informalmente comunicado ao Reitor. Como não fazia mais parte do Corpo Docente do NFM, voltei para meu “castigo’’ no Curso de Arquitetura. Sobre minhas atividades nesse Curso, veja o artigo citado na Nota [1].

No começo de 1967, meu estimado e saudoso amigo Tom Leal conseguiu que eu fosse transferido para a EEP para reger a “cadeira’’ Estabilidade das Construções, que era ministrada no quarto ano do Curso de Engenharia Civil. Quando fui me apresentar ao então Vice-Diretor, em exercício da Direção da EEP, professor Almir Correia Alves, estava presente, também, o professor Jurandyr, que coordenava o Curso de Engenharia Elétrica. Como havia dificuldade em encontrar professor para a disciplina Eletromagnetismo para esse Curso, o Jurandyr convidou-me para ministrá-la. Assim, comecei a ensinar duas disciplinas (“cadeiras’’) na EEP. Nessa ocasião, fui designado, por Portaria do Reitor Silveira (número 203/67), “para, como professor Adjunto,[16] reger a disciplina ELETROMAGNETISMO, do Curso de Engenharia Elétrica, no período de 4/3 a 31/12/67’’.

Depois de ministrar algumas aulas de Estabilidade, houve a primeira dificuldade com os alunos e alguns professores da EEP que me acusavam de estar ensinando coisas fora do programa daquela disciplina. Lembro-me que estava seguindo o livro Hiperestática Plana e Geral, do professor carioca Aderson Moreira da Rocha, e que, em uma das aulas, resolvi um sistema de duas equações com duas incógnitas, decorrente das equações de equilíbrio de uma viga reta, bi-apoiada com cargas inclinadas. Fui então informado pela direção da EEP que deveria parar de ensinar “coisas de alto nível’’ e que deveria me ater a ensinar apenas a “teoria do concreto armado e não sistemas hiperestáticos’’. Respondi que, … “mais baixo do que isso, apenas a aritmética mais simples: somar e subtrair’’. Deixei então de ministrar Estabilidade, ficando apenas com Eletromagnetismo. Por indicação minha, a disciplina Estabilidade foi regida pelo meu estimado amigo José Augusto Soares Affonso,[17] a partir de 1968.

Em 1968, fui contemplado com uma Bolsa de Estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para realizar, a partir de março, pós-graduação em Física na Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação do professor Tiomno, de quem fora aluno na UnB, em 1965. Fiquei na USP até julho de 1969, ocasião em que completei os créditos para o Mestrado e também para o Doutorado. Contudo, os acontecimentos de maio de 1968, na França, com repercussões no Brasil, e a proclamação do Ato Institucional Número 5 (AI-5), de 13 de dezembro de 1968, fizeram com que a minha carreira de professor e pesquisador em Física tivesse os percalços que relatei na referência indicada na Nota [1].

Em julho de 1969, reassumi minhas funções de professor Assistente na EEP. Contudo, meus antigos companheiros do NFM, sabedores de minha volta a Belém, sugeriram que o Coordenador em exercício do NFM, meu saudoso amigo Mário Serra, solicitasse ao Reitor Aloysio da Costa Chaves minha volta ao convívio deles. No NFM, eu, Mário Serra, Manoel Leite, Moutinho e Rui Barbosa idealizamos o Curso de Preparação ao Mestrado.[18]

Apesar de voltar a fazer parte do Corpo Docente do NFM, continuei dando aulas da disciplina Eletromagnetismo para os alunos do terceiro ano do Curso de Engenharia Elétrica. Ora, como a duração dessa disciplina era de um ano, e havendo-a iniciado no começo de agosto de 1969, comuniquei ao chefe do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE) que havia programado as aulas para terminarem somente no final de junho de 1970. Como essa programação não foi bem aceita pelos estudantes e por alguns professores desse Departamento, esboçou-se uma crise que foi agravada, no final de setembro, quando houve o resultado da Primeira Prova Intervalar. Em vista disso, os estudantes fizeram-me uma proposta de reformulação do conteúdo programático da disciplina.[19] No entanto, como não concordei com a proposta, deixei de lecionar aquela disciplina. Gerou-se uma crise que foi discutida em uma reunião da Congregação da Escola de Engenharia, e da qual não participei. No entanto, nessa reunião, fui ardorosamente defendido pelo professor Daniel da Costa Mendes,[20] do DEE. Essa defesa deu ensejo ao envio de uma carta anônima, datada de 4 de dezembro de 1969, ao então Diretor da EEP, professor João Maria de Lima Paes que, entre outras coisas do mesmo jaez, dizia: – “O Sr. bem sabe que Bassalo é franco comunista, como comunista é o seu defensor, o qual por isso mesmo levantou-se cachimbo ao queixo e num palavreado insolente e descortês. … Evite de ser envolvido na trama comunista, já que o sr. ainda é integralista.’’[21]

Conforme destaquei no artigo que preparei para comemorar os 25 anos de meu doutorado em Física (Nota [1]), ao ver frustrada nossa tentativa de institucionalizar um ensino pós-graduado em Física e Matemática, passei, a partir de 1970, a dar cursos de extensão, quer para professores, quer para alunos em término de graduação que pretendiam obter o mestrado fora de Belém. Paralelamente a isso, continuei ministrando disciplinas no agora Departamento de Física do Centro de Ciências Exatas e Naturais (DF/CCEN), bem como no DEE, do agora Centro Tecnológico (CT).[22]

A partir de 1971, com a política de capacitação docente introduzida pelo Reitor Aloysio Chaves, sob o meu patrocínio (que constou da obtenção do aceite de instituições de ensino e de Bolsas de Estudo de órgãos financiadores), alguns professores de Física, de Matemática e de Engenharia foram fazer Mestrado no Sul do país. Dentre eles, destaco os professores de Física, o Paulo de Tarso Santos Alencar, o Leopoldino dos Santos Ferreira e o Orlando José Carvalho de Moura, e os professores de Matemática, o Paulo Roberto Oliveira e Souza e o Theódulo de Castro Santos.[23]

Em 1972, fui escolhido Patrono da turma de Engenharia Elétrica. Por sua vez, o então Governador do Pará, engenheiro Fernando Guilhon, havia sido escolhido Patrono da turma de Engenharia Civil. Em eleição realizada entre os colandos, fui eleito para falar pelos Patronos por ocasião da Colação de Grau das Engenharias, que aconteceria no Teatro da Paz. Comecei, então, a preparar meu discurso que, basicamente, descrevia a criação de vários Institutos de Tecnologia no Brasil [Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Comissão de Programas Pós-Graduados de Engenharia (COPPE) etc.] e, no final, propunha a criação de uma instituição análoga para a Amazônia.[24] Não fiz o discurso, assim como não fui à Colação, pois o então diretor do CT, professor Lima Paes, achou que seria uma afronta eu falar na presença do Governador.

Ainda em 1972 houve a “luta de foice no escuro’’ para implantarmos o Grupo de Geofísica na UFPA.[25] Como essa luta já está, de algum modo, relatada nas referências da Nota [9], quero apenas acrescentar que, devido às dificuldades nessa implantação, tive meu nome denunciado como subversivo no Serviço Nacional de Informações (SNI) [hoje, extinto e substituído pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)] e, acrescido do fato de haver sido preso em São Paulo, em decorrência do AI-5, as minhas aspirações de fazer pós-graduação em Física, na França, foram frustradas. Acabei fazendo Mestrado e Doutorado na USP, em 1973, e 1975, respectivamente.[26]

Implantado o Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geofísica (PPPG), da UFPA, sob a coordenação do professor José Seixas Lourenço,[27] passei a fazer parte do Colegiado do Curso de Pós-Graduação oferecido por esse Programa. Cheguei a ministrar duas disciplinas: Matemática Avançada e Eletrodinâmica Clássica. No entanto, meu relacionamento com a cúpula desse Programa foi se tornando cada vez mais difícil, por absoluta divergência acadêmica, que se agravou por ocasião de um seminário ministrado pelo Lourenço, no Departamento de Física, quando discordamos sobre o papel da Física, da Matemática e da Química na formação de um pesquisador desse Programa. Eu defendia a idéia de que deveríamos fortalecer os Departamentos dessas disciplinas, e o Lourenço achava que não, e que o fortalecimento deveria ser apenas da Geofísica. Como a posição do Lourenço foi compartilhada pelos demais membros dirigentes do PPGG (com exceção do casal Maltez: Maria Gil e Herberto), desliguei-me do grupo de Geofísica que ajudara a criar.[28]

Com a implantação da Reforma Universitária na UFPA, a partir de 1970, conforme vimos, a política de capacitação de seus docentes continuou, agora, com um grande incentivo, qual seja, a implantação do Regime de Dedicação Exclusiva (RETIDE). Em 1 de outubro de 1973 fui incluído nele. Contudo, como alguns professores do DF/CCEN que estavam fazendo mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro, dentre eles o meu amigo Paulo de Tarso, não receberam esse benefício, renunciei minha inclusão em seu favor. Essa minha atitude gerou um ofício do professor Renato Condurú, Diretor do CCEN, ao Presidente do órgão que coordenava a implantação daquele Regime (COPERTIDE), professor Antonio Gomes Moreira Júnior, no qual foram escritas coisas insólitas, do tipo: – …”O Prof. BASSALO ao renunciar, abre mão da vaga `em favor de PAULO DE TARSO SANTOS ALENCAR’. Ora, Sr. Presidente, queremos crer que as vagas de regime gratificado não são `capitanias hereditárias’ ou coisa semelhante, as quais se possa abdicar em favor de terceiros. Quando muito competiria ao professor uma sugestão ou indicação, mesmo porque na situação em que se encontra o Prof. ALENCAR vários outros se encontram. Além do mais, parece que já começa a ficar desacreditada esta história de `defensor dos fracos e dos oprimidos’ … ‘’. É claro que respondi a essa provocação com um pronunciamento longo e ríspido. Infelizmente, a morte prematura do Renato (com quem, conforme já disse, aprendi muita Matemática), em acidente de carro ocorrido no dia 23 de junho de 1974, impediu-me de recompor nossa amizade, que havia sido rompida com esse incidente.[29]

Entediado com a minha função de engenheiro do Departamento Municipal de Estradas de Rodagem de Belém (DMER/Bl), frustrado por não viajar à França, e interessado em concluir meu doutoramento em Física, na USP, uma vez que havia concluído o mestrado nessa Universidade, em 1973, em meados de 1974 conversei com o então Diretor do DMER, o saudoso engenheiro civil Ramiro de Nobre e Silva, que estava interessado em ser colocado à disposição da UFPA, com ônus (parcial) para esse órgão rodoviário. A princípio ele concordou, contudo, dependia também da concordância do Prefeito de Belém, dr. Octávio Bandeira Cascaes. Fui então conversar com o Dr. Cascaes que, prontamente, aquiesceu a essa minha pretensão. Assim, fui ao Reitor da UFPA, professor Clóvis Cunha da Gama Malcher, expus-lhe o ocorrido e solicitei-lhe que formalizasse a minha vinda para a UFPA. Desse modo, em 1 de agosto de 1974, devido ao Convênio firmado entre o DMER e a UFPA, comecei, então, a trabalhar somente nesta.

Uma vez no DF/CCEN, e com a ajuda do Paulo de Tarso, dei seguimento à formação de pessoas, quer por meio de Cursos de Extensão e de Especialização, quer por cartas de recomendação para paraenses que desejavam sair de Belém.[30] Com efeito, logo em 1975, por sugestão de meu saudoso amigo Guilherme Maurício Souza Marcos de La Penha, então professor do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tentamos montar um Curso de Especialização em Física, o qual, contudo, devido aos velhos problemas ideológicos envolvendo a mim e a UFPA,[31] só se iniciou em agosto de 1981.[32] Em 1983, voltamos a realizar um segundo Curso de Especialização em Física. Em 1985, eu e o Paulo, agora com a ajuda dos professores Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann, Célia Coelho Bassalo, Maria Gil Maltez, Maria Helena Bentes, Herberto Gomes Tocantins Maltez e Waterloo Napoleão de Lima, organizamos o Simpósio Sobre a História da Ciência e da Tecnologia no Pará.[33] Em 1986, criamos, com outros professores do DF/CCEN,[34] o Mestrado em Física. Em 1987, realizamos o I Encontro de Físicos do Norte.[35] Em outubro de 1989, fiz o concurso para Professor Titular da UFPA. A partir de 1990, comecei a orientar Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCC), sendo o primeiro deles o do aluno Van Sérgio Alves, atualmente professor do DF/UFPA, em estágio de pós-doutoramento nos Estados Unidos da América. Registro que, até o momento, maio de 2001, orientei 27 TCC. Com a criação do Programa Especial de Treinamento (PET), da CAPES, destinado a iniciar estudantes na pesquisa, fui, nos anos de 1991 e 1992, o primeiro professor tutor do PET no DF/UFPA.[36] Em 1995 e 1997, Paulo e eu organizamos, respectivamente, o primeiro e o segundo Curso de Especialização em Física Contemporânea, com a ajuda da CAPES com o objetivo de melhorar o nível de professores do ensino secundário. Paralelamente a essas atividades, ministrei disciplinas de graduação e de pós-graduação, bem como continuei meu trabalho de pesquisador, iniciado com a Tese de Mestrado, conforme está descrito na referência da Nota [1].

Ao finalizar esse depoimento sobre a minha atividade acadêmica na UFPA, vou falar sobre a minha participação como representante do CCEN no Conselho Superior de Ensino e Pesquisa (CONSEP). No período compreendido entre dezembro de 1974 e dezembro de 1976, fui membro suplente do Lourenço, que representava o CCEN, no CONSEP. Contudo, por diversas vezes, o substituí nas reuniões plenárias desse Órgão Deliberativo. Foi por essa ocasião que participei ativamente na criação e implantação de uma Fundação de Amparo à Pesquisa do Pará, a hoje FADESP, idealizada pelo Dias, por mim e Lourenço.[37]

Quando, em 2 de julho de 1985, o Lourenço assumiu a Reitoria da UFPA, eu era o representante do CCEN no CONSEP. Na primeira reunião do CONSEP sob a presidência do Lourenço, assim me manifestei: – “Magnífico Reitor, como estou afastado do grupo de Geofísica por não concordar com a política acadêmica traçada por Vossa Magnificência, enquanto dirigiu esse grupo, encontro-me diante de duas alternativas. Ou renuncio o meu mandato de representante, ou `ensarilho as armas’ e junto-me ao senhor para construir a Universidade que sonhamos. Opto pela segunda alternativa’’. Assim, pelo período de quatro anos, 1985-1989, representei o CCEN, no CONSEP.

Durante minha estada no CONSEP, aconteceram alguns fatos inusitados e interessantes que gostaria de descrever. No dia 1 de outubro de 1985, propus[38] que o professor Jayme Tiomno, com quem havia estudado na UnB e na USP, proferisse a Aula Inaugural da UFPA do ano letivo de 1986. Dias antes dessa Aula e para que o povo paraense soubesse quem era o ilustre convidado, publiquei um artigo em O Liberal. Nessa Aula, que aconteceu no dia 14 de fevereiro, o professor Tiomno discorreu sobre a vivência nas quatro universidades em que trabalhou (UFRJ, UnB, USP e PUC/RJ), tecendo comentários sobre a intervenção dos militares em algumas universidades brasileiras, principalmente a que resultou na demissão em massa dos professores da UnB.[39] Quando o Coronel Passarinho tomou conhecimento do teor da Aula, escreveu um violento artigo sobre o professor Tiomno, o que me indignou e provocou uma manifestação minha em uma reunião do CONSEP, no final da qual propus[40] um voto de desagravo ao professor Tiomno e de repúdio ao Coronel Passarinho pelo teor do artigo.

Ainda como Representante do CCEN no CONSEP, no período referido, é oportuno destacar outras proposições por mim apresentadas a esse Egrégio Conselho. Depois de uma ampla discussão com os professores Arnaldo Prado Júnior, o falecido Henrique Antunes, Paulo Alencar, Orlando Moura e minha mulher Célia sobre o Concurso Vestibular da UFPA, apresentei, em março de 1987, uma proposta de reformulação da maneira de o aluno entrar na UFPA, a qual, basicamente, seria por meio de duas etapas. Embora a proposta não fosse aprovada em sua íntegra (havia detalhes de como apresentar e corrigir questões), ela o foi no que se refere as duas etapas, como aconteceu com os Vestibulares de 1988 até 1990. Contudo, de 1991 até 1994, voltou a ser realizado em uma etapa e, de 1995 até hoje, prevalecem as duas etapas. Ainda nesse ano de 1987, em novembro, por proposta minha no CONSEP, foi aprovada a participação da Associação de Docentes da Universidade Federal do Pará (ADUFPA)[41] como membro desse Conselho Superior.

Logo no começo de 1988, no dia 18 de fevereiro, apresentei ao CONSEP uma proposta de alterar o modo como vinha sendo realizada a transferência, externa (exceto a ex-ofício) ou interna, de alunos para a UFPA. Como não havia um critério único, dependia de cada Colegiado de Curso, propus que houvesse uma prova de seleção. Hoje esta prática está consolidada na UFPA e se constitui no famoso Vestibulinho.

Ainda em 1988 aconteceu o meu incidente com o então Governador do Estado, Dr. Hélio Mota Gueiros. No dia 8 de abril de 1998 formulei na reunião do CONSEP um voto de protesto ao Sr. Governador do Estado pela maneira como ele estava tratando os professores estaduais em greve. Ao tomar conhecimento desse meu voto, no dia 13 de abril, ele enviou um telex ao CONSEP tecendo críticas pejorativas à minha pessoa, o que me motivou a enviar, no dia seguinte, uma carta ao Governador.[42]

O ano 1989 foi o da eleição para Reitor da UFPA. Participei ativamente no grupo que apoiou e elegeu o professor Nilson Pinto de Oliveira para o cargo máximo da UFPA. Nessa eleição, contudo, é oportuno registrar dois fatos interessantes. O primeiro deles refere-se à maneira como o Conselho Universitário (CONSUN) (do qual faz parte o CONSEP) da UFPA conseguiu diminuir de 11 para apenas três candidatos àquele cargo, pois, na ocasião em que aquele órgão discutiu a Regra Eleitoral, foi aprovado que os candidatos apresentassem os seus auxiliares de primeiro escalão (Vice e Pró-Reitores) por ocasião de sua inscrição.

O segundo fato vincula-se à dicotomia esquerda-direita que sempre permeia as eleições universitárias. Como o Nilson era considerado um candidato de esquerda, a direita organizou-se tentando impedir que a referida Regra Eleitoral fosse aprovada. Na primeira tentativa, os conselheiros (inclusive eu) ficaram sitiados no local da Reunião em virtude de a liderança estudantil de direita haver impedido que os alunos de esquerda, que faziam parte do CONSUN, entrassem nela e, desse modo, não houve quorum e nem clima para realizar a Reunião. Na segunda tentativa, os alunos foram trazidos para a Sala de Reuniões, pela parte da madrugada do dia da Reunião e, desse modo, foi possível realizar a votação. Registre-se que, como ainda era exigida uma lista sêxtupla de candidatos para ser enviada ao Ministro da Educação, o CONSUN escolheu cinco candidatos (denominados na época de damas de companhia) que completaram a lista do Nilson, já que este vencera as eleições.

Ainda dentro do tema do CONSEP, quero dizer que voltei a ser membro dele, primeiro como suplente do professor Ducival Carvalho Pereira, de dezembro de 1998 a julho de 1999. A partir daí, passei a ser o titular, para concluir o mandato do professor Ducival (dezembro de 2000), e por haver sido reeleito para um novo mandato até dezembro de 2002. Decidi voltar ao CONSEP para, basicamente, discutir a aprovação do Novo Estatuto da UFPA. Infelizmente, até o presente (junho de 2001), ele não foi aprovado. Registre-se que sua aprovação foi anunciada como uma das principais metas quando da posse do Lourenço na Reitoria da UFPA. Não poderia deixar de destacar que, por ocasião do recente processo de eleição (iniciado em março de 2001 e concluído em junho de 2001) para a escolha do Reitor da UFPA, houve um repúdio da esquerda, apresentado por todos os órgãos representativos dos três setores da UFPA [estudantes, por intermédio do Diretório Central de Estudantes (DCE); professores, por intermédio da ADUFPA; e dos funcionários, por intermédio do Sindicato dos Trabalhadores da UFPA (SINTUFPA)], contra o processo de eleição aprovado no CONSUN, em março de 2001, que obedeceu à regra do MEC: peso de 70% para o voto dos professores e o restante igualmente dividido entre alunos e funcionários.[43]

No fecho deste artigo, gostaria de mencionar uma observação feita por meu amigo Paulo de Tarso. Trata-se do seguinte. No decorrer deste depoimento, o leitor deve ter observado que discordei de várias pessoas que, na ocasião, exerciam cargos supremos. Essa discordância decorreu da interpretação que elas fizeram de minha situação em relação ao deslocamento do pêndulo ideológico, já que, em meu trajeto de vida, ora fiquei à esquerda, ora à direita desse pêndulo.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BASSALO, J. M. F. 2000. 25 Anos de Meu Doutorado em Física. Ciência e Sociedade:CBPF-CS-003/ Março 2000.

2. Sobre a história da UFPA, ver: BECKMANN, C. F. R. 1985. IN: Anais do Simpósio sobre a História da Ciência e da Tecnologia, Tomo II, GEUFPA, p. 507-532.

3. Sobre a história da EEP, ver: CAVALCANTE, G. P. S. 1985. IN: Anais do Simpósio sobre a História da Ciência e da Tecnologia, Tomo I, GEUFPA, p. 321-343.

4. Sobre a minha passagem como aluno da EEP, ver: BASSALO, J. M. F. 1999. 40 anos de Formatura em Engenharia Civil. Ciência e Sociedade: CBPF-CS-001/Março 1999.

5. Existe uma outra versão para esse fato. Objetivando comprar a passagem aérea (Belém-Rio) para a esposa do Dias, a Maria, foi feita uma coleta entre os professores-alunos concluintes. Contudo, um desses professores-alunos, o saudoso Antônio Borges Leal Filho (Tom Leal), conseguiu uma passagem pela Força Aérea Brasileira (FAB) para ela. Desse modo, o dinheiro recolhido foi então usado para a compra do relógio.

6. Ainda em fevereiro de 1962, freqüentei um outro Curso de Extensão Universitária, ministrado pelo professor Renato Pinheiro Condurú e intitulado: Conjuntos e Funções, Topologia Geral e Análise Vetorial. Aproveito a oportunidade para dizer que aprendi muita Matemática com o Renato, já que ele havia sido meu professor no CEPC, no terceiro ano ginasial (1949), no terceiro ano científico (1953) e em um Curso de Extensão Universitária, intitulado Teoria Matricial (julho de 1960), ministrado no Colégio Nossa Senhora de Nazaré.

7. O Dias ficou conhecido em Belém por haver participado, em 1957, do famoso programa da Rádio Marajoara, Nova York é o Fim, programa no qual o candidato respondia sobre algum tema (Física Elementar, no caso do Dias) e ia ganhando passagens aéreas e estadas em certas cidades brasileiras, até o Rio de Janeiro, antes de Nova York. Quando o Dias ganhou a etapa do Rio de Janeiro, o apresentador do programa perguntou se ele tentaria Nova York. O Dias disse que não, pois estava precisando apenas da viagem para o Rio de Janeiro, já que iria estudar Física na Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). O Dias tentara entrar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA); contudo, embora aprovado, não foi classificado. No entanto, como ele havia realizado uma excelente prova de Física, um dos examinadores, o saudoso físico Sérgio Pereira da Silva Porto, usou o resultado da prova do Dias, no ITA, e o matriculou na FNFi.

8. O Lourenço foi aprovado em primeiro lugar no Vestibular que prestou para o Curso de Física da FNFi. Essa aprovação, aliás, lhe valeu uma Bolsa de Estudos.

9. Para entender a formação desse grupo de paraenses, veja-se: DIAS, C. A. (s/d) Documentos Relativos à Formação e Fixação na Amazônia de uma equipe de Pesquisadores em Ciências do Ambiente (mimeo); BASSALO, J. M. F. 1979. A Pesquisa em Física no Pará. Revista de Ensino de Física 1 (1): 55-60; ZARUR, G. C. L. 1989. Ciência, poder e cultura no Brasil: o caso da Geofísica Aplicada. Ciência e Cultura 41 (4): 319-328; PROUBASTA, D. 1999. Regional Focus: Brazil – Carlos Alberto Dias, The Leading Edge 18 (7): 826-829; LUIZ, J. G. 2000. Geofísica na UFPA; 28 anos de pesquisa e formação de recursos humanos, TN Petróleo 16: 78-79.

10. O Professor Djalma era um professor de Física bastante conhecido em Belém. Fui seu aluno no segundo ano do curso de Engenharia Civil, em 1955. Depois, tornei-me um grande amigo seu. Lembro-me de freqüentar a casa dele, na rua Arcipreste Manoel Teodoro, entre as Travessas São Pedro e Tupinambás, para juntos estudarmos assuntos de Física, principalmente o Curso de Física Moderna que o professor paraense Jurandyr Nascimento Garcez, que acabara de se formar no ITA, ministrava no NFM, em 1964. (Registre-se que o Jurandyr veio a Belém, para transformar a EEP numa Politécnica, junto com outros iteanos, dentre os quais o saudoso Seihó Gushi e Francisco de Assis Coelho Dutra.) Quando o Djalma mudou-se para o Rio de Janeiro, sempre o visitava, na Rua Bambina, em Botafogo, toda vez que ia àquela cidade. Aliás, ele era vizinho do Ruy Britto, já que este morava no mesmo quarteirão dessa rua carioca. [Sobre o Ruy Britto, ver meu depoimento, e de outros professores, em sua Tese de Cátedra do CEPC, Conjuntos Lineares: Sucessão, recentemente editada pela SECTAM/FUNTEC/UFPA (1999).]

11. Em julho de 1964, participei do Ciclo de Conferências sobre Matemática Moderna, proferido pelo matemático paraense, radicado no Rio de Janeiro, Jorge Emanuel Barbosa, e patrocinado pela Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Pará.

12. Minha ida para a UnB não foi fácil. Talvez resquícios de nossa luta de 1964 fizeram com que os meus vencimentos fossem retidos por algum tempo.

13. Sobre a minha passagem na UnB, ver a Nota [1]. Para um estudo mais detalhado sobre o que aconteceu nessa Universidade, ver; SALMERON, R. A. 1998. A Universidade Interrompida: Brasília 1964-1965. (Editora UnB).

14. Fui um grande amigo do Mário Serra. Conheci-o em 1949, quando fomos colegas no terceiro ano do Curso Ginasial do CEPC. Várias vezes estudei na casa dele, na Vila Militar, na Travessa São Francisco (eu morava em uma travessa paralela próxima, a São Pedro). Depois, ele foi meu contemporâneo na EEP (ele se formou engenheiro civil, em 1960 e eu, em 1958). Nossa amizade se fortaleceu quando fomos professores do NFM. Estávamos juntos a maior parte do dia, quer no NFM, quer em casa. O Mário era um erudito, pois além de conhecer muita Matemática, conhecia Filosofia, Literatura e Sociologia Política, graças às leituras que fizera na excelente biblioteca de seu pai, o general Tasso Moraes Rêgo Serra. Além do mais, ele lia em inglês, francês, alemão e espanhol. Desse modo, pudemos estudar em livros nesses idiomas. Lembro-me, por exemplo, de estudarmos as primeiras idéias sobre resolução de Equações em Derivadas Parciais, no hoje lendário Courant-Hilbert (Methoden der Mathematischen Physik), em sua edição alemã. Estudamos as Séries Matemáticas, no Rey Pastor, e o Cálculo das Variações, no Bernard Baule, ambos autores escreveram livros em espanhol. Quando havia necessidade de ver algum fundamento matemático, o Mário recorria ao também lendário Bourbaki, uma coleção de livros franceses sobre Matemática Pura. Contudo, o nosso dia-a-dia constava de leituras de livros em inglês, que o Ruy Britto, encomendava para nós no Rio de Janeiro (sobre esse comportamento do Ruy, veja a referência no final da Nota [10]). Além de ser tudo isso e, também, um excelente caráter, o Mário foi um exímio jogador de xadrez (pentacampeão paraense), e com grandes perspectivas de se tornar um bom escritor, como, também, um excelente pesquisador, se não fosse sua morte prematura, em 4 de fevereiro de 1975. Todos os seus colegas do NFM se deliciaram com o seu famoso opúsculo sobre a “origem matemática’’ do jogo de dominó, em 1969, e se orgulharam com sua contribuição original intitulada Pesquisa dos Extremos de um Funcional, de 1972, textos esses que ainda permanecem inéditos.

15. Como o leitor pôde observar, tive uma relação muito forte com a Matemática. Aliás, era para eu ser matemático, caso a primeira tentativa de criar o Mestrado em Matemática no NFM não fosse frustrada. Essa estória, contudo, está sendo contada pelo Rui Barbosa, em trabalho que está preparando sobre a História da Matemática no Pará. Com relação ao professor Ubirajara, é oportuno relatar uma outra estória. Quando ele terminou seu Curso, estávamos conversando informalmente e lhe disse que era “bidoutor’’, pois era engenheiro civil, pela UFPA, e Bacharel em Física, pela UnB. Ele então retrucou: – “Você não é bidoutor coisa nenhuma, já que não defendeu Tese de Doutorado nesses assuntos’’. Ele tinha razão. Somente recebi os “paramentos de doutor’’, em 1975, na USP. (Vide Nota [1]).

16. Apesar de haver sido designado, temporariamente, professor Adjunto da UFPA, somente em 4 novembro de 1976 (Diário Oficial da União – Seção I, Parte I, Suplemento), passei a exercer definitivamente esse cargo, em conseqüência de um concurso interno de titulos realizado na UFPA, no qual, aliás, obtive a maior pontuação entre os professores que participaram desse concurso.

17. Sobre a minha amizade com o Affonso, ver: BASSALO, J. M. F. 2001. O Engenheiro do Ano. O Liberal, 17 de janeiro.

18. Sobre esse Curso, fiz alguns comentários na referência da Nota [1]. Agora, vou relatar outros comentários sobre ele. Esse Curso, do qual fui seu Secretário-Executivo (Portaria de número 38/69), destinava-se a professores e alunos da última série dos Cursos de Matemática, Física, Química e das Engenharias (Civil e Elétrica). Como não houve muita aceitação por uma boa parte dos professores e dos alunos daqueles Cursos, ele teve uma existência efêmera, cerca de meio ano. Apesar disso, excelentes resultados foram conseguidos, já que alguns de seus alunos foram fazer pós-graduação em Engenharia Civil no Rio de Janeiro. Por exemplo, Alberto Gabay Canen, Nagib Charone Filho e Deslisle Lopes da Silva, obtiveram o Mestrado na Comissão dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (COPPE), da Universidade do Rio de Janeiro.

19. Basicamente, eu usava as Monografias do professor Tiomno (já referidas) nas minhas aulas, coadjuvado pelo livro do Reitz-Milford (Foundations of Electromagnetic Theory, Addison-Wesley Publishing Company, Inc., 1960). Um dos professores do DEE, João Fernandes Feitosa, favorável à proposta de reformulação dos estudantes, comprometeu-se com eles que, como estava indo à famosa Escola de Engenharia de Itajubá, onde se formara, iria trazer o programa da disciplina Eletromagnetismo dessa Escola. Qual a surpresa dos estudantes quando verificaram que o seu conteúdo era o do Jackson (Classical Electrodynamics, John Wiley and Sons, 1962), livro usado na pós-graduação de Física, no qual, inclusive, eu estudara na USP, em 1968.

20. Durante o tempo que ensinei na EEP, eu e o Daniel lutamos muito para a melhoria do ensino no DEE. Por exemplo, reestruturamos todo o Curso de Engenharia Elétrica, tomando como base o ITA. Assim, pela primeira vez na Universidade do Pará, foi estruturado um curso com disciplinas semestrais e não anuais. Chegamos a preparar um Catálogo, em 1970, demonstrando essa estrutura. Esse fato gerou, um pouco mais tarde, quando o Reitor Aloysio Chaves implantou a Reforma Universitária com essa estrutura, a partir de 1970, um comentário da então Secretária do Centro Tecnológico, Dona Terezinha de Jesus Reis Luzo: – “Pôxa, professor Bassalo, eu pensei que o senhor e o professor Daniel estavam malucos quando estruturaram o Curso de Engenharia Elétrica em disciplinas semestrais’’. Registre-se que essa experiência de preparar um Catálogo de Curso foi importante para que eu e o Paulo de Tarso preparássemos, em 1973, o Catálogo do Curso de Licenciatura em Física da UFPA, assim como, dois anos antes, preparássemos o caminho crítico do currículo do Curso de Licenciatura Curta de Física, que serviu de modelo para os currículos de outros Cursos da UFPA.

21. Eu tenho uma desconfiança sobre a autoria dessa carta anônima, cujo original foi entregue a mim pelo professor Lima Paes. Creio que a mágoa do seu autor para comigo vem desde o episódio do Vestibular da EEP, em fevereiro de 1969. Nesse Vestibular, por ocasião da prova de Química, dois vestibulandos foram acusados de estarem conversando e, por isso, tiveram as provas retiradas pela banca e atribuído o grau zero a eles. Essa questão foi levada à Congregação da EEP. Durante os dois dias em que estivemos reunidos para dirimir essa questão, houve muita discussão entre os professores. Eu liderava os professores mais jovens para que fosse mantida a decisão da banca e, por isso, discuti com alguns dos professores mais antigos, que eram contra aquela decisão, pois achavam que deveria ser feita nova prova. Lembro-me de que a intervenção do professor Alírio César de Oliveira dizendo que “não ia violentar a minha consciência votando contra a decisão da banca de Química’’ foi fundamental para a decisão histórica da Congregação: manter o zero. Apesar dessa decisão, o Diretor da EEP, professor Lima Paes, mandou realizar nova prova. Um deles foi aprovado e o outro, reprovado. Como não posso declinar o nome do provável autor da carta anônima, decidi, também, não dizer os nomes dos estudantes envolvidos nesse incidente.

22. A nova estrutura departamental de nossa Universidade decorreu da implantação da Reforma Universitária, a partir de 1970, conforme referi em nota anterior.

23. Antes da decisão do Reitor Aloysio em permitir a saída desses professores, houve um incidente comigo. Quando fui à Reitoria, que funcionava na Avenida Governador José Malcher com a Avenida Generalíssimo Deodoro, com alguns desses professores, comunicar a ele que os aceites, com as respectivas Bolsas, haviam chegado, o Dr. Aloysio recebeu-nos dizendo: – “O senhor, professor Bassalo, está maluco, como poderei mandar esses professores, e quem os substitituirá?’’ Respondi: – “Foi o senhor mesmo que me pediu para providenciar a ida desses professores, porque o senhor queria começar a melhorar o nível dos professores da UFPA. Aliás, peça ao seu Chefe de Gabinete, professor Machado Coelho (Inocêncio Machado Coelho Netto, que era e é meu sogro) para apanhar uma pasta na qual existem documentos relacionando esses professores e as instituições onde irão estudar a pós-graduação. Se não achar esses documentos, irei em casa buscar cópias deles’’. Ele chamou o professor Machado que, imediatamente, encontrou a pasta a que eu havia me referido. O Dr. Aloysio olhou a pasta, confirmou o que eu havia dito e me disse: – “Podem ir embora que irei resolver essa situação’’. Segundo me disse o meu sogro, ele mandou chamar o professor Renato Condurú, então Diretor do CCEN, e disse-lhe que iria liberar os professores e que trataria de suas substituições. Registre-se que a decisão do Dr. Aloysio em melhorar o Corpo Docente da UFPA decorreu de uma conversa que teve com diversos professores de universidades brasileiras, dentre eles, o professor Alberto Luiz Coimbra, um dos idealizadores da COPPE. Aliás, foi o professor Coimbra quem indicou meu nome para selecionar candidatos à pós-graduação em Engenharia.

24. Esse discurso foi publicado na Revista da UFPA 4 (II): 119-165, em 1974. Desde essa época até o presente momento, luto pela criação do Instituto de Ciência e Tecnologia da Amazônia (ICTA), conforme os artigos que já escrevi sobre esse tema: BASSALO, J. M. F. 1985. IN: Anais do Simpósio sobre a História da Ciência e da Tecnologia no Pará, Tomo II: 545-559; —– 1992. O Liberal, 12 e 19 de janeiro; —– 1996. IN: Energia na Amazônia, Volume II: 925-927.

25. Para a implantação da Geofísica no Pará foi importante a determinação do Dr. Aloysio Chaves, bem como o apoio irrestrito do professor José Monteiro Leite, então membro da Câmara de Pesquisa do Conselho Superior de Ensino e Pesquisa (CONSEP) da UFPA. Registre-se que a determinação do Dr. Aloysio decorreu de uma conversa que teve com alguns dirigentes do então Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), principalmente o Dr. Manoel da Frota Moreira e, também, com o meu sogro, já que, sendo amigos, ele e meu sogro, desde a infância, o consultou sobre os professores que iriam compor o grupo de Geofísica, grupo esse que, constantemente, estava na casa de meu sogro, que, por sinal, era também a minha, pois morava com ele, como até hoje.

26. Sobre esses fatos, veja-se: BASSALO, J. M. F. 1991. Cassação Branca e Cassação Patrulhada, Beira do Rio, junho; —– 1994. As Bodas de Cobre do AI-5, Boletim da ADUFPA, abril. Aliás, é interessante registrar o seguinte episódio relativo a minha suposta “atividade subversiva na UFPA’’. No primeiro semestre de 1975, estava ministrando a disciplina Desenvolvimento da Física para alunos do Curso de Licenciatura em Física da UFPA. Um certo dia, logo no início do semestre, entrou em sala um novo aluno. Como não constava na lista de chamada, pedi-lhe que passasse no Departamento e regularizasse a situação. Ele me respondeu: – “Professor, eu não sou aluno da UFPA. Estava passando por aqui, gostei de sua aula e pergunto se posso continuar assistindo suas aulas, bem como receber as Notas de Aulas (base das minhas futuras Crônicas da Física) que o senhor distribui aos alunos’’. Claro que sim, respondi-lhe. Numa das últimas aulas do final do semestre, quando me dirigi ao carro para vir para a minha casa, ele se aproximou de mim e perguntou-me se poderia receber uma carona. Certamente que sim, por favor, entre no carro, disse-lhe. No decorrer do trajeto ele me informou que era da Aeronáutica, que já havia passado pela Universidade de Campinas (UNICAMP) e que, agora, estava a serviço na UFPA. Ele só faltou me dizer que seu serviço era “espionar’’ os “subversivos“ da UFPA. Registro que nunca mais tive notícia desse militar.

27. A indicação do Lourenço para coordenar o PPPG foi minha. O Dias, que então coordenava um Programa semelhante na Universidade da Bahia, quando resolveu implantar o PPGG na UFPA, queria que eu fosse o seu Coordenador, já que juntos, conforme vimos anteriormente, havíamos iniciado a formação de um grupo de paraenses que fosse “invariante por uma transformação de Reitor’’, conforme, mais tarde, eu defini esse grupo. Para isso, eu deveria seguir para a Bahia para fazer um estágio com ele. Como não estava interessado em sair de Belém e, também, por estar interessado em Física, declinei do convite e indiquei o Lourenço, que acabara de se doutorar, em Geofísica, na Universidade de Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos da América.

28. O incidente que decidiu o meu rompimento com o PPPG aconteceu quando o Lourenço, em julho de 1976, criou dificuldades para aceitar a Tese de Mestrado de meu estimado e querido amigo, o piauiense José Airton Cavalcante de Paiva, que, inclusive, havia trabalhado nessa Tese na Universidade Autônoma do México, em 1975, com o geofísico mexicano, Román Alvarez, aliás, por indicação do próprio Lourenço. É oportuno destacar que, em janeiro de 1974, o José Airton e o César Augusto Campos de Alencar Bezerra haviam vindo do Ceará para estudar e fortalecer a Geofísica na UFPA, por indicação de meu outro querido amigo, o Newton Theophilo de Oliveira, que havia sido meu colega em Brasília e em São Paulo, quando ambos estudávamos Física. Em janeiro de 1975, chegou o terceiro cearense, Geraldo Majela Lima Cavalcanti, também indicado pelo Newton.

29. A minha amizade com o Renato começara a sofrer dificuldades por ocasião em que eu e o Antonio Oliveira havíamos apresentado, juntamente com nossos currículos, um plano de reestruturação do Departamento de Física por ocasião da reunião, deste Departamento, ocorrida no dia 29 de junho de 1973. Nessa reunião, o professor Roberto José Barbosa de Oliveira manifestou-se contra o plano, pois o considerava um “plano de comunistas exibicionitas (referindo-se aos nossos currículos) e que o próximo Reitor da UFPA, professor Clóvis Malcher, que iria assumir a Reitoria no dia 2 de julho, já estava ciente desse plano subversivo’’. Retruquei dizendo que: – “O professor Clóvis já sabe disso e, mais ainda, que o senhor recebe salário sem dar aulas’’. O ambiente ficou tão tenso que foram avisar a minha mulher, Célia, que estava dando aula em um dos pavilhões do Núcleo Universitário, dizendo-lhe: – “Célia, o teu marido ficou doido. Ele está desarrumando na reunião do Departamento de Física’’. Esse incidente foi agravado em outras reuniões do Departamento que se seguiram, nas quais se realizou a eleição para a chefia do Departamento. Por, pelo menos duas vezes, consegui anular a eleição por irregularidades na votação, uma vez que o Regimento Geral da UFPA não estava sendo cumprido. Por fim, a nossa amizade rompeu-se com o referido incidente da minha RETIDE. É oportuno dizer que, na ocasião em que o SNI impediu-me de ir para a França, em 1974, o professor Roberto Oliveira procurou contornar essa situação, dizendo ao Paulo de Tarso, então Chefe do Departamento de Física, para que eu fosse à agência do SNI, localizada no décimo primeiro andar do prédio da Receita Federal, e procurasse o militar responsável por ele, explicasse a minha situação na UFPA e, com isso, talvez, conseguisse acabar com a “cassação branca’’ sobre a minha pessoa. Obviamente, não aceitei a sugestão. Essa atitude do professor Roberto Oliveira decorreu do fato de que Paulo e eu impedimos que a Reitoria demitisse esse professor por abandono de emprego. (O professor Roberto, por problema de saúde, havia ido embora para o Rio de Janeiro, sem comunicação prévia.)

30. Dentre os paraenses que saíram de Belém, na década de 1970 e começo da década de 1980, para estudar fora, destaco: Antônio Boulhosa Nassar (doutor, atualmente professor na Universidade da Califórnia), Benedito Roberto Rodrigues (doutor, atualmente na Universidade Estadual do Norte Fluminense), Luís Carlos Lobato Botelho (doutor, atualmente na Universidade Rural do Rio de Janeiro), Wilson Oliveira (doutor, atualmente na Universidade Estadual de Juiz de Fora), Luiz Antônio Oliveira Nunes (doutor, atualmente na USP/São Carlos), José Jerônimo Alencar Alves (doutor), Petrus Agripino Júnior (doutor), Péricles Oliveira Júnior (doutorando), Miguel Ayan Gaia (doutorando) e Simone Fraiha (doutorando), estes cinco últimos trabalhando atualmente na UFPA, e José Correia Tancredi (especialista), atualmente aposentado da UFPA. Além dos saudosos Henrique Antunes Neto e José Tadeu de Souza Paes, ambos doutorandos antes de falecerem. É oportuno destacar que o professor Fernando Medeiros Vieira e o paraense Wladimir Negrão Guimarães, da UNICAMP, promoveram a ida, para esta Universidade, dos paraenses José de Ribamar Seguins Gomes (doutor), João Sandoval Bittencourt de Oliveira (doutor) e Luiz Sérgio Guimarães Cancela (doutor), hoje, todos aposentados da UFPA, e Elsen Alfredo dos Santos Alencar (especialista), ainda em atividade na UFPA. Além dessa atividade de colaborar na formação de pessoas para a UFPA, eu, Paulo e o Antonio Oliveira procuramos formar uma infra-estrutura bibliográfica para o DF/CCEN, por intermédio de projetos de pesquisa que encaminhamos (e concedidos) ao CNPq, que solicitavam a aquisição de livros e de revistas especializadas em Física.

31. Dois dias depois que o Dr. Aracy Amazonas Barreto assumiu a UFPA, em 2 de julho de 1977, fui convocado por ele para ajudá-lo em sua administração. Logo de saída, o Dr. Aracy me falou: – “Minha filha Cristina me falou muito do senhor. Apesar de sua posição política, gostaria que o senhor colaborasse na minha administração’’. Depois de lhe perguntar qual era a minha “posição política’’ (certamente ele queria dizer comunista), disse-lhe que o ajudaria naquilo que eu entendia: Física. Apesar de tentar ajudá-lo no chamado Programa Premesu IV: MEC-BID, em 1979, procurando fazer um convênio com o Observatório de Paris, por intermédio do professor francês Henri van Regemorter (que viria a Belém ministrar um curso), essa tentativa foi frustrada pelo SNI, pois o professor Henri foi considerado subversivo por não concordar com a presença dos Estados Unidos na Guerra do Vietnam. Gostaria de aproveitar essa oportunidade para me referir a um outro incidente “ideológico’’. Conforme descrevi na Referência indicada na Nota [1], em 1972 tentei fazer o mestrado na França. Fui impedido pelo SNI, e acabei obtendo esse título na USP, em 1973. Em 1974 tentei fazer o doutorado na França e fui, novamente, impedido pelo SNI, apesar de conseguir a Bolsa de Estudo do CNPq. No final do mandado do professor Clóvis Malcher, ele me agraciou com a Palma Universitária, em Ofício Circular de número 019/77 – SEGE, de 21 de junho de 1977. Contudo, como achei que o professor Clóvis não tivera força para demover o SNI de minha “cassação branca’’, declinei da honraria em carta cortês que lhe enviei no dia 28 desse mesmo mês de junho.

32. Considerando a importância da Filosofia para o desenvolvimento da Física, eu, Paulo e o professor Benedito José Viana da Costa Nunes, no primeiro semestre de 1982, organizamos uma série de Seminários envolvendo temas de Física e de Filosofia.

33. Fui o Secretário-Geral desse Simpósio, ocorrido no período de 17 a 21 de junho. Destaque-se que sua realização deveu-se ao empenho do professor Daniel Queima Coelho de Souza, pois estava finalizando sua gestão na Reitoria da UFPA. Para ver os trabalhos apresentados nesse Simpósio consultar os seus Anais, em dois Tomos, editados pela então GEUFPA, em 1985. Esses trabalhos registram, basicamente, a história dos diferentes órgãos que, no Pará, tiveram influência no desenvolvimento científico e tecnológico de nosso estado.

34. Os demais professores do DF/CCEN que criaram o Mestrado de Física foram os seguintes: Carmelina Nobuko Kobaiashi, Fátima Nazaré Barauna Magno, João Furtado de Souza, João Sandoval Bittencourt de Oliveira, Lindalva do Carmo Ferreira, Luiz Sérgio Guimarães Cancela, Orlando José Carvalho de Moura, Henrique Santos Antunes Neto e José Tadeu de Souza Paes. É oportuno destacar que a Comissão de Implantação do Mestrado foi designada pela Portaria de número 02004/85, assinada no dia 9 de abril de 1985, pelo então Chefe do DF/UFPA, professor Cancela. Nela, foram convocados: Carmelina, Fátima, Henrique, Sandoval, Bassalo, Cancela e Paulo. Somente no ano seguinte, com a ajuda dos outros professores referidos, conseguimos implantar o Mestrado. Por Portaria da Reitoria de número 1337/86, assinada no dia 7 de outubro de 1986 pelo professor Raimundo Netuno Nobre Villas, Pró-Reitor de Administração, eu e Lindalva fomos designados, respectivamente, Coordenador e Vice-Coordenador do Colegiado do Curso de Mestrado em Física, pelo período de dois anos.

35. Esse Encontro foi realizado nos dias 12 e 13 de novembro, com a seguinte Comissão Organizadora: José Maria Filardo Bassalo (Coordenador-UFPA), Paulo de Tarso Santos Alencar (Secretário Tesoureiro-UFPA), Henrique Santos Antunes Neto (Secretário-UFPA), João Batista Nogueira (Universidade Federal do Acre), Osmar Siena (Universidade Federal de Rondônia) e Adelino Ribeiro (Fundação Universidade do Amazonas). Além do patrocínio do DF/CCEN da UFPA, ele teve o apoio do CNPq, da CAPES e da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Para ver o Programa desenvolvido durante esse Simpósio, consulte o folder relativo a ele. Creio ser oportuno relatar que, no segundo dia desse Simpósio, houve um incidente entre mim e alunos do Curso de Filosofia da UFPA. Por falha da Pró-Reitoria de Extensão, o Auditório Setorial Básico I no Campus do Guamá, que havia sido previamente cedido para o Simpósio, foi também cedido àqueles alunos para a realização da Semana de Filosofia. Como esses alunos queriam, de qualquer maneira, que desocupássemos o Auditório para eles, fui obrigado a dizer a seu líder: – “Só se passarem por cima de meu cadáver’’. Terminamos o Simpósio e, no dia seguinte, houve a distribuição de um panfleto (o próprio anúncio da Semana) com os dizeres adicionais: – “Professor Bassalo agrediu aluno de Filosofia’’. Esse incidente, relatado por mim em reunião do Conselho Universitário (CONSUN), provocou uma solicitação de esclarecimento, datada de 18 de novembro de 1987, ao Centro Acadêmico de Filosofia, pelo então Diretor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, professor Alex Bolonha Fiúza de Mello.

36. Os primeiros alunos do PET, no DF/CCEN, foram: Cristina Tereza Monteiro Ribeiro, Dione Fagundes de Souza e Walter José Medeiros de Mello Júnior. Hoje, os dois primeiros são doutores formados na USP/São Carlos, e o terceiro é doutorando também dessa Universidade.

37. Por sugestão minha, meu grande amigo, o então Deputado Estadual Aldebaro Barreto da Rocha Klautau, por ocasião da votação da Constituição Estadual, em 1989, apresentou o projeto de criação de uma Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Pará. Lembro-me que eu e alguns professores da UFPA [José Francisco Ramos, Antonio Oliveira, Lourenço, Sidney Emanuel Batista dos Santos, Afonso Brito Chermont, Reginaldo Wanghon Monteiro, Norbert Frenzl, Juan Lorenzo Bardalez Hoyos, Luís Ercílio do Carmo Faria Júnior e Luís Aragón], com a presença do professor Ennio Candotti, então Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)] e do Reitor Nilson Pinto de Oliveira, fomos à Assembléia Legislativa Estadual fazer “lobby’’ com os Deputados para convencê-los a aprovar o projeto do Deputado Klautau. Embora aprovado, ele só foi regulamentado, como Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia (FUNTEC), em 1997, no primeiro mandato do governo do Dr. Almir Gabriel, por iniciativa do Nilson, então Secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente.

38. A íntegra da Proposicão foi a seguinte: 1. Considerando que há perspectivas promissoras de uma “Nova UFPA’’, por parte do atual Reitorado; 2. Considerando que o presente Reitorado é composto de alguns professores que lidaram com Física, quer em sua formação graduada, quer em sua formação pós-graduada; 3. Considerando que a implantação do grupo de pesquisa em Geofísica, ao qual pertencem alguns dos principais mandatários da UFPA, teve ajuda fundamental de docentes do Departamento de Física da UFPA; 4. Considerando que os professores-pesquisadores de Física, os doutores Jayme Tiomno e Elisa Frota Pessoa, muito contribuíram para a formação de alguns membros da cúpula de direção da UFPA; 5. Considerando que os professores Tiomno e Elisa são físicos de conhecida competência e de reconhecimento internacional; 6. Considerando que os professores Tiomno e Elisa trocaram uma vida profissional promissora no exterior, para lutarem pela formação de universidades brasileiras dignas deste nome; 7. Considerando que os professores Tiomno e Elisa sempre lutaram pela melhoria do ensino e da pesquisa nas universidades brasileiras por onde ministraram cursos (UFRJ, UnB e USP); 8. Considerando que o professor Tiomno foi vítima do arbítrio quando teve sua aposentadoria compulsória decretada em abril de 1969, por força do AI-5, PROPONHO que o professor Tiomno seja convidado para proferir a Aula Inaugural do ano letivo de 1986. Proponho ainda que o professor Tiomno venha acompanhado de sua mulher, professora Elisa Frota Pessoa.

39. Sobre esse episódio ocorrido na UnB, ver o livro do professor Salmeron citado na Nota [13].

40. A integração da Proposição foi a seguinte: – 1. Considerando que o CONSEP, em reunião do dia 1 de outubro de 1985, aprovou, por unanimidade, a sugestão ao Reitor para que este convidasse o professor Jayme Tiomno para proferir a Aula Inaugural de 1986 da UFPA, ocorrida no último dia 14 de fevereiro; 2. Considerando que o CONSEP, naquela ocasião, teve por meu intermédio e por solicitação do Conselheiro Horácio Schneider, Pró-Reitor de Planejamento da UFPA, uma rápida descrição da biografia acadêmica e científica do professor Tiomno, descrição essa por mim amplida e publicada em O Liberal de 9 de fevereiro último (com o título: Quem é Jayme Tiomno); 3. Considerando que o CONSEP aprovou tacitamente a Aula Inaugural proferida pelo ilustre cientista brasileiro, já que em reunião do CONSUN, realizada no dia 18 de fevereiro de 1986, não houve nenhuma manifestação contrária a essa Aula por parte de qualquer um de seus membros do CONSEP, integrante que é, juntamente com o Conselho Superior de Administração (CONSAD), daquele Conselho Máximo da UFPA; 4. Considerando que o Sr. Jarbas Passarinho, em artigo intitulado Lembrando Lacerda, publicado em O Liberal de 23 de fevereiro de 1986, foi extremamente injusto com o cientista Jayme Tiomno, acusando-o de uma suposta filiação ideológica contrária à do Sr. Passarinho, sobejamente conhecida de todo o cidadão brasileiro, e de outros propósitos, que não sejam o ensino e a pesquisa – dever de todo professor universitário -, pois que, em referido artigo, assim se manifestou: … “para servir aos seus propósitos políticos, ou à sua (o grifo é meu) filiação ideológica’’; 5. Considerando ainda que o Sr. Passarinho, nesse mesmo artigo, duvida do caráter do eminente conferencista, pois que inicia com as seguintes palavras sua crítica sobre a Aula Inaugural do professor Tiomno: – “Carlos Lacerda, na sua habitual contingência verbal, escreveu certa feita a Burle Marx para dizer-lhe `que o fato de alguém ser um bom paisagista não concede o direito de não ter caráter’. É dura a frase, mas rigorosamente fiel ao estilo de seu autor, além de que, Burle Marx à parte, encerra uma verdade genérica’’. O Sr. Passarinho conclui seu artigo da seguinte maneira: – “Não pude deixar de lembrar-me de Carlos Lacerda e Burle Marx … ‘’; 6. Considerando que o Sr. Passarinho inferiu tais conceitos sobre o professor Tiomno, baseado apenas no resumo da Aula Inaugural proferida por esse professor, conforme suas próprias palavras: – “Essas considerações me vêm à mente, quando leio o resumo da aula inaugural da Universidade …’’, sem portanto, conhecer o conteúdo integral da Aula; 7. Considerando que o Sr. Passarinho tem todo o direito de defender os governos dos generais-presidentes a quem serviu durante mais de 20 anos, mesmo porque estamos em um regime democrático, o que, contudo, não lhe dá o direito de tirar conclusões precipitadas sobre o resumo de um texto por ele desconhecido, PROPONHO que seja, em regime de urgência, discutido e votado por parte desse Egrégio CONSEP, um voto de desagravo e repúdio aos conceitos de valor atribuídos pelo Sr. Passarinho ao professor Tiomno, um dos mais dignos, corretos e eminentes cientistas brasileiros, e que esse voto seja enviado pela Universidade ao agravador e ao agravado. Belém, 3 de março de 1986. Professor José Maria Filardo Bassalo, Representante do CCEN no CONSEP. Registre-se que o voto foi aprovado pelos conselheiros (com apenas a abstenção de um professor), e posteriormente enviado aos mesmos.

41. Creio ser oportuno dizer nesse depoimento sobre minhas atividades acadêmicas na UFPA que tive uma participação efetiva na criação da ADUFPA, uma vez que, quando o professor Romero Ximenes Ponte começou a trabalhar na fundação dessa Associação, em 1979, fui um dos primeiros professores contatados por ele para viabilizá-la. Nessa ocasião me propus a conseguir a inscrição dos professores do DF/UFPA como os primeiros membros dessa importante Associação, fundada no dia 18 de maio de 1979.

42. A íntegra da carta é a seguinte: “Belém, 14 de abril de 1988. Exmo. Sr. Dr. Hélio Mota Gueiros, D. D. Governador do Estado do Pará. Li, nos jornais de hoje, o telex no qual Vossa Excelência responde ao voto de protesto (e não de repúdio) que o CONSEP, em quase sua total maioria, aprovou em reunião realizada no dia 8 último, por proposição minha. É estranha a referência que Vossa Excelência faz a minha pessoa naquele telex – “… um gaiato que entra e sai ano, e não faz nada de útil e de sério em favor do ensino superior da Universidade …’’ considerando que, no dia 15 de outubro de 1987, recebi, me parece, a maior honraria educacional do Estado do Pará, qual seja, o Mérito Educacional Arthur Porto, de vossas mãos. Como estou afastado do ensino público do segundo grau há mais de 20 anos, creio que esta honraria que Vossa Excelência me concedeu refere-se a minha atividade como professor e pesquisador (para não falar na formação de pessoal) na UFPA, conforme atesta meu currículo anexo. Senhor Governador, creio que devemos tirar uma lição desse lamentável incidente. Vossa Excelência não deverá mais conceder honraria nenhuma a qualquer gaiato e eu, de minha parte, não deverei receber, também, honraria de quem não considere a Educação como um ponto fundamental de qualquer governante, como eu a considero há mais de 30 anos. Em vista do exposto acima, e antecipando-me a um outro ato extemporâneo de Vossa Excelência, apresso-me em devolver-lhe a honraria acima referida. Cordialmente, Professor José Maria Filardo Bassalo’’.

43. É oportuno registrar que o CONSUN, em reunião do dia 7 de maio 2001, por proposição dos estudantes e apoio de membros desse órgão (num total de 37), anulou a eleição, ocorrida no dia 9 de abril de 2001, sob a alegação de que houve irregularidades no pleito. Aproveito a oportunidade para dizer que, nessa reunião, fui contra (juntamente com outros membros do CONSUN, num total de 28 e duas abstenções) essa anulação, por considerar a eleição legítima e limpa. Por outro lado, no dia 1 de junho o CONSUN anulou a decisão do dia 7 de maio, num total de 32 votos a favor, 27 contra e 3 abstenções. Em conseqüência disso, foi marcado o dia 11 de junho para o CONSUN escolher a lista tríplice. Realizada essa reunião, o resultado foi o seguinte: 33 votos para o professor Carlos Edilson de Almeida Maneschy, 27 votos para o professor Alex Bolonha Fiúza de Mello, 1 voto para a professora Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões, e 2 votos nulos. Depois de uma luta política em Brasília, o professor Alex acabou sendo nomeado o Reitor da UFPA. Sobre o assunto, ver: BASSALO, J. M. F. 2001. Eleições para Reitor na UFPA. DFUFPA/2001 (mimeo); _______ Entrevista ao jornalista Elias Ribeiro Pinto, Diário do Pará, 6 de maio de 2001.

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1. Palestra proferida no dia 21 de maio de 2001, por ocasião do Primeiro Seminário sobre Pesquisa na Amazônia, organizado pelo professor Helder Boska de Moraes Sarmento, Superintendente de Pesquisa da Universidade da Amazônia (UNAMA). Ela foi publicada no livro Crônicas da Física, Tomo 6 (EDUFPA, 2001).

MAGISTÉRIO

ENSINO: “BANCÁRIO” OU HOLÍSTICO? ¹

Neste artigo, farei uma reflexão de minha atividade de mais de 50 anos como professor. Meu pai Eládio, era espanhol e chegou no Brasil, em 1912, com sua mãe Tereza e suas irmãs Lúcia e Luzia. Esta, em conversa familiar, dizia que meu avô paterno (cujo nome eu nunca soube), era professor na Espanha. Portanto, creio ser atávica minha vocação para o magistério.

As primeiras lembranças como professor referem-se às aulas de Aritmética ministradas por mim ao filho de um vizinho, Moisés Bemerguy, quando eu tinha cerca de 14 anos incompletos de idade, por volta de 1949. Posteriormente, em 1967, ele voltaria a ser meu aluno na então Escola de Engenharia do Pará (EEP), na disciplina Eletromagnetismo do Curso de Engenharia Elétrica.] Essa prática de ministrar aulas particulares de Matemática (Aritmética, Álgebra e Geometria), a estendi, nos anos seguintes, às filhas de outros vizinhos, cujos nomes de então destaco, nesta oportunidade, para homenageá-las: Ana Maria Ribeiro Alves, Consuelo Azevedo, Ione Caldeira, Ivanise Mesquita, Maria Eugênia (“Marujá”) Farache e Maria Eugênia Nogueira. Aproveito, também, a oportunidade para homenagear um amigo de adolescência, que era auxiliar de padeiro da Mercearia e Padaria “Fortaleza do Humaitá” que ficava na esquina da rua onde eu morava, a quem dava aulas de Aritmética. Infelizmente nunca soube o nome dele, pois era apenas conhecido como “Borozinho”, por ser sobrinho do lendário “Boró”, brilhante atacante do meu querido Clube do Remo.

Oficialmente, minha atividade de professor ocorreu em março de 1954, justamente quando iniciei o Curso de Engenharia Civil na EEP. Com efeito, indicado pelo saudoso amigo e então aluno dessa Escola, Jofre Alves Lessa [e meu colega no antigo Serviço Municipal de Estradas de Rodagem (SMER)], fui ser professor de Matemática a uma turma do quarto ano do Curso Secundário no extinto Colégio “Abraham Levy”, de propriedade da estimada Professora Alice Antunes (já falecida). Logo no ano seguinte, fui convidado pela referida Professora para ensinar Física, ao alunado do Curso Científico. Em 1957, passei a lecionar essa disciplina no Colégio Estadual “Paes de Carvalho” (CEPC) e, em agosto de 1961, no então Núcleo de Física e Matemática (NFM) da Universidade do Pará [hoje Universidade Federal do Pará (UFPA)]. A essas duas últimas Instituições fui indicado pelo amigo-irmão, Professor Manoel Leite Carneiro. Até o presente momento (fevereiro de 2003), continuo como Professor de Física da UFPA.

Nessa atividade de professor, basicamente, exerci aquilo que o saudoso educador brasileiro Paulo Freire define como ensino “bancário” em um de seus importantes livros: Pedagogia do Oprimido (Editora Paz e Terra, 1978, 5a Edição, sendo a 1a Edição de 1970). Vejamos o que diz nesse livro. “A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em `vasilhas’, em recipientes a serem `enchidos’ pelo educador. Quanto mais vá `enchendo’ os recipientes com seus `depósitos’, tanto melhor educador será… . Em lugar de comunicar-se, o educador faz `comunicados’ e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção bancária da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los … .”

Nessa concepção bancária da educação, em que o professor é o sujeito e o aluno o objeto, há o velho preceito da Física Clássica no qual o sujeito (por exemplo, observador dotado de um aparelho de medida) e o objeto (por exemplo, a posição de uma partícula) são distintos, ou seja, a ação de medir não interfere no resultado. Registre-se que esse preceito começou a ser questionado, a partir de 1927, com o famoso princípio da incerteza Heisenbergiano, segundo o qual, basicamente, o sujeito e o objeto formam uma cadeia dialética: sujeito-objeto. Observe-se que hoje essa cadeia é objeto de uma questão fundamental na Física e, também, na Ciência de um modo geral, qual seja: a MEDIDA. Voltaremos a essa cadeia mais adiante quando tratarmos da concepção holística da educação.

O “ensino bancário”, que recebi e ministrei durante esses anos, foi se adaptando na medida em que a tecnologia evoluiu e alguns de seus resultados incorporaram-se àquele ensino: quadro magnético, pincel atômico, transparências, multimídia, internet etc., etc. A essa parafernália tecnológica, foram também acrescentados outros recursos didáticos: lista de exercícios, testes mensais, trabalhos para casa, seminários etc., etc. Contudo, apesar de tal “inovação educacional”, ela continua, no meu entendimento, BANCÁRIA, uma vez que ainda há um distanciamento entre o sujeito (professor, como depositante do conhecimento) e o objeto (aluno, como receptor desse mesmo conhecimento). Há alternativa para esse tipo de ensino, perguntará o leitor? Sim, há, conforme procurarei demonstrar a seguir.

Essa alternativa, que a chamarei de HOLÍSTICA, ocorreu-me ao ler um texto de meu amigo, o físico brasileiro Jenner Barretto Bastos Filho, no livro intitulado Ciência, Ética e Sustentabilidade (Editora Cortez, UNESCO, CDS-UnB, 2001). Nesse texto, há uma referência sobre o conceito de ensinar formulado por Paulo Freire, no livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa (Editora Paz e Terra, 2002, 24a Edição). Neste livro, Freire retorna ao tema central de sua vida, formalizado em 1970, qual seja, o de como ensinar, afirmando que: “Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula, devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento”.

Analisando essa frase, Jenner destaca: “O que Freire pretendeu ressaltar com isso é que a prática de ensinar jamais poderá ser reduzida a uma mera transferência similar a de um registro de água que pode ser aberto ou fechado a qualquer tempo”. Esse “registro”, em meu entendimento, funciona pela simples ação do “educador bancário”.

Agora, vejamos a alternativa do que proponho: ensino holístico. A palavra Holístico deriva do grego hólos, que significa “inteiro”, “completo”. Assim, a meu juízo, o ensino deverá ser inteiro, completo. Que isso quer dizer?, indagará novamente o leitor. Quer dizer que o professor em sala de aula deverá formar com o estudante a cadeia dialética, sujeito-objeto Heisenbergiano, referida anteriormente. Destaque-se que, na linguagem de Paulo Freire, essa cadeia constitui a do-discência (docência-discência), cujos elos são os diversos saberes necessários à prática da docência. Para detalhes desses saberes, consultar o segundo livro de Paulo Freire já mencionado.

Na minha vida de estudante, um novo elo-saber dessa cadeia eu o conheci (sem ter consciência dele), quando fui aluno do físico japonês Jun’ichi Osada, no então Departamento de Física da Universidade de São Paulo (USP), em 1969, na disciplina Introdução à Física das Partículas Elementares. A prova final que fiz, em junho desse mesmo ano, juntamente com mais dois colegas, Coaracy Malta e Luís Carlos Campelo Cruz, foi a seguinte: “Formule e resolva um problema sobre cada uma das interações físicas: fraca, forte e eletromagnética”. Iniciada a prova, por volta das 14 horas, o professor nos entregou um envelope e solicitou que quando a terminássemos, colocássemos no envelope e o passássemos por baixo da porta de sua sala de estudos. Disse-nos que poderíamos consultar a biblioteca que ficava no andar térreo do prédio onde estávamos e que teríamos o tempo de que desejássemos para concluí-la. Por volta das 22 horas, terminei a prova, que mereceu do professor Osada, o conceito C. Ao conversar com ele sobre a razão desse conceito, disse-me que, das três questões que formulei, apenas a relativa à interação eletromagnética tinha uma certa originalidade, daí o conceito que me atribuiu. Disse-me, também, que poderia até trocar o conceito para B, em virtude de eu haver também formulado e resolvido as duas outras questões, mas, no entanto, ela realmente valia C. Aceitei o C!

A partir dessa experiência, sempre que foi possível, conforme reportarei mais adiante, inclui uma questão do tipo formule e resolva, valendo 40%, nas provas das disciplinas que ministrei. Objetivava com essa prática, testar apenas a criatividade do estudante, sem pensar na cadeia dialética professor-aluno já referida.

Desse modo, na minha vivência como professor universitário, dois novos outros elos-saberes daquela cadeia foram sendo por mim inconscientemente construídos. Vejamos como. Desde o início de meu interesse pela evolução histórico-conceitual da Física, que resultaram nos livros por mim escritos sobre esse tema (Crônicas da Física, Tomos 1-6; Nascimentos da Física: 3500AC-1900AD; 1901-1950, editados pela UFPA, respectivamente, nos anos: 1987, 1990, 1992, 1994, 1998, 2002, 1996 e 2000), ilustrei as aulas das várias disciplinas específicas de Física que ministrei, com aquela evolução (ver minhas Notas de Aula sobre Tópicos de Eletrodinâmica Clássica, DFUFPA, 2002). E, na medida do possível, relacionei-a com a evolução histórica de outros temas do conhecimento humano, sempre que minha curiosidade para-Física assim o permitia. Desse modo, estava forjando, inconscientemente como referi acima, mais um elo-saber da cadeia dialética mencionada até aqui.

O terceiro novo elo-saber inconsciente dessa cadeia por mim construído refere-se ao critério de aprovação do aluno. Pelo que eu saiba, até o presente momento, na UFPA (quiçá, nas Universidades Brasileiras), esse critério ainda é o do ensino bancário, uma vez que o aluno é obrigado a descontar o “cheque” do ensino ministrado pelo professor depositante. Esse “cheque”, sob diversas formas [provas (escritas ou orais), seminários, trabalhos, etc.] é “descontado” ou “não descontado” pelo professor, caso este considere se há ou não suficiência de “fundo bancário” do estudante.

Quando realizei meus estudos de pós-graduação na USP, tive um primeiro contacto com um outro processo de avaliação do estudante. Trata-se do método Keller. Em 1968, o famoso psicólogo e educador norte-americano Fred S. Keller escreveu o provocante artigo intitulado Goodbye, Teacher, publicado no Journal of Applied Behavior Analysis 1, pg. 1. Esse método (desenvolvido por Keller, com a colaboração de Gil Sherman, quando Keller esteve no Brasil, na Universidade de Brasília, em 1961 e, posteriormente, aplicado na Universidade do Estado do Arizona, na América do Norte), basicamente, permite ao estudante o seu próprio aprendizado em uma determinada disciplina, porém com a assistência do professor.

Uma variante desse método era aplicada pelo físico brasileiro Luís Carlos Gomes quando professor da disciplina Introdução à Mecânica Quântica e para a qual usava o Volume III do famoso livro The Feynman Lectures on Physics, editado pela Addison-Wesley Publishing Company, Inc, 1965. Assim, em 1968, quando fui seu aluno-ouvinte nessa disciplina, no começo de cada aula fazíamos um teste sobre um determinado assunto daquele livro, assunto que deveríamos ter estudado anteriormente. Terminado o teste, o professor o corrigia discutindo com nós, alunos, os erros e acertos que praticáramos. A avaliação final do curso era feita por ele de acordo com os resultados desses testes e a participação de cada estudante durante as discussões dos mesmos em sala de aula.

Depois que me tornei um grande amigo daquele mestre, tive oportunidade de conhecer o método, detalhadamente, em reuniões que ele realizava em sua casa, em 1969. Com a aposentadoria (nesse mesmo ano de 1969, em conseqüência do Ato Institucional No 5 (AI-5) de alguns professores da USP, o professor Luís Carlos resolveu se transferir para a Universidade de Brasília (UnB). E, como já havia nessa Universidade a prática daquele método (pelo próprio Keller, segundo já registramos), ele discorria sobre a prática que lá adotaria. Ela constava de um Banco de Provas (com respectivos gabaritos-resposta a serem preparados por ele, com auxílio de alunos-monitores) referente aos vários temas de uma determinada disciplina que ministraria. O aluno, então, na medida em que avançava no estudo da disciplina, quer assistindo aulas de discussão com o professor Luís Carlos, quer estudando por si próprio, solicitava ao monitor a prova referente ao tema desejado para testar o seu próprio aprendizado. O monitor faria a correção da prova e, por fim, o aluno discutia com o professor Luís Carlos o conceito final da prova que realizara.

Pois bem, quando voltei à UFPA, em julho de 1969, tentei aplicar o método em minhas aulas, o que foi malogrado por absoluta falta de infraestrutura universitária para aplicá-lo. Desse modo, passei a adotar o meu próprio critério de aprovação de meus estudantes nas diversas disciplinas que passaria a ministrar. Em tese, eles teriam sempre “fundos” no ensino bancário (com traços “holísticos” inconscientes, que usaria e conforme salientei) que por mim seria lecionado. No entanto, como era obrigado a atribuir um conceito final, realizaria provas tradicionais, com 40% delas constituídas de uma questão do tipo formule e resolva. E assim procedi. Contudo, com a expectativa de criar uma consciência de cidadania (respeito por si próprio e pelo cidadão de um modo geral) em cada estudante, deixei-os fazendo essas provas sem a minha presença. Certamente houve “cola” por parte de alguns deles, apesar de saberem de antemão que os seus “cheques” já estavam descontados com o “fundo mínimo”. Entendi e ainda entendo (pois continuo a ensinar dessa maneira) aquele comportamento como parte, creio eu, da natureza humana de querer sempre o máximo.

Por fim, perguntará o leitor: essa cadeia dialética até aqui discutida já está completa? Não, faltam outros elos-saberes que irão nela sendo incorporados, na medida em que esse ensino holístico for aceito e praticado por outros professores-educadores. É claro que, este ensino só será completo se houver dignidade no tratamento do professor, com melhores salários e condições de trabalho, e do aluno, com bolsas de estudo suficientes para o exercício de seu estudo.

Antes de encerrar esse artigo, farei um comentário final. Enquanto a prática de ensino fundamental e básico (segundo alertou-me meu amigo-irmão professor Paulo de Tarso Santos Alencar) de Paulo Freire o levou a afirmar que “Ensinar é substantivamente formar” (ver o seu livro Pedagogia da Autonomia, citado anteriormente), a minha prática de ensino universitário (graduação e pós-graduação), em mais de 40 anos de exercício do magistério, me levou a outra afirmação: ENSINAR É INFORMAR. Este apotegma elaborei ao observar o comportamento posterior de centenas de meus estudantes e o de recordar o que sempre ouvi nas aulas de meu pranteado mestre Angenor Porto Penna de Carvalho (1911-1990), em 1958, na disciplina Portos de Mar, Rios e Canais, na inesquecível EEP, na travessa Campos Sales com a rua Senador Manoel Barata, em minha querida Belém do Pará: “O aluno não deve ignorar aquilo que ignora!” Em síntese, aquele apotegma significa para mim, o seguinte: o professor informa ao aluno os aspectos importantes da disciplina que está ministrando. Cabe a esse, e somente a ele, ignorar ou não a informação!

Em tempo. Após finalizar este artigo, obtive duas preciosas informações. Uma, decorrente da leitura do excelente livro biográfico-científico (Geons, Black Holes, and Quantum Foam, W. W. Norton and Company, 1998) do físico norte-americano John Archibald Wheeler (n. 1911), e a outra de meu prezado amigo Jenner Bastos, em e-mail que me enviou analisando criticamente o artigo em tela e que previamente o mandara. Essas preciosas informações relacionam-se com o polêmico problema da medida na Mecânica Quântica. Wheeler afirma que: “Medida, o ato de tornar potencialidade em atualidade, é um ato de escolha, escolha entre possíveis resultados”. Mais adiante, ele escreve: “As leis da física nos dizem o que apenas pode acontecer. A medida nos diz o que está acontecendo (ou o que aconteceu). A despeito dessa diferença, é razoável imaginar que a informação (grifo meu) situa-se no caroço da física”. Em vista disso, formulou o seguinte aforisma: Tudo é Informação (“Everything is Information”). Nesta oportunidade, quero fazer um pequeno registro. Minha mulher Célia, professora de Literatura, ao ler esse artigo, fez o seguinte comentário: “Bassalo, Aristóteles, na Arte Retórica e Arte Poética (Difusão Européia do Livro, 1964), já havia observado uma situação análoga a essa descrita por Wheeler. Lá, afirmou que a História narra o que aconteceu, enquanto a Literatura diz o que poderia acontecer. Desse modo, será que, aristotelicamente, podemos dizer que a Física faz o papel da Literatura, enquanto a História, o da Medida?”. Gostaria que sim, respondi.

Jenner, por sua vez, depois de fazer um precioso estudo sobre o problema da medida em Mecânica Quântica, concluiu: “Concordando com a idéia central de Bassalo e também com a idéia de que há muita relação sujeito/objeto nessa educação holística, acho que a associação ao problema da medida em mecânica quântica é a meu ver inadequada”.

Jenner tem inteira razão nessa afirmação. Nossa discordância é apenas de forma e não de fundo, uma vez que a idéia central (de fundo) da educação holística está por nós preservada: o professor e o aluno devem formar um ente único. E, certamente, a forma de obter esse ente não passa pela Teoria da Medida da Mecânica Quântica, mesmo porque, essa Teoria não é um instrumento pedagógico.

Ainda no e-mail do Jenner, ele diz que tanto Paulo Freire quanto eu estamos certos, uma vez que FORMAR e INFORMAR não são categorias que se excluem mutuamente, e que, portanto, quem informa está também formando. Contudo, desta vez, Wheeler veio em meu socorro, como professor de Física, quando coloca a informação no centro da Física. Porém, resta uma questão: a informação é também o centro de qualquer atividade humana? Creio que sim, mas, deixo ao leitor que reflita sobre essa questão. Portanto, Jenner, sendo você um de meus generosos leitores, ponha “mãos à obra”.

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1. Artigo publicado em Ciência e Sociedade CBPF-CS-002/03, Maio de 2003.