ENSINO: “BANCÁRIO” OU HOLÍSTICO?

MAGISTÉRIO

ENSINO: “BANCÁRIO” OU HOLÍSTICO?

Neste artigo, farei uma reflex�o de minha atividade de mais de 50 anos como professor. Meu pai El�dio, era espanhol e chegou no Brasil, em 1912, com sua m�e Tereza e suas irm�s L�cia e Luzia. Esta, em conversa familiar, dizia que meu av� paterno (cujo nome eu nunca soube), era professor na Espanha. Portanto, creio ser at�vica minha voca��o para o magist�rio.

As primeiras lembran�as como professor referem-se �s aulas de Aritm�tica ministradas por mim ao filho de um vizinho, Mois�s Bemerguy, quando eu tinha cerca de 14 anos incompletos de idade, por volta de 1949. Posteriormente, em 1967, ele voltaria a ser meu aluno na ent�o Escola de Engenharia do Par� (EEP), na disciplina Eletromagnetismo do Curso de Engenharia El�trica.] Essa pr�tica de ministrar aulas particulares de Matem�tica (Aritm�tica, �lgebra e Geometria), a estendi, nos anos seguintes, �s filhas de outros vizinhos, cujos nomes de ent�o destaco, nesta oportunidade, para homenage�-las: Ana Maria Ribeiro Alves, Consuelo Azevedo, Ione Caldeira, Ivanise Mesquita, Maria Eug�nia (�Maruj�) Farache e Maria Eug�nia Nogueira. Aproveito, tamb�m, a oportunidade para homenagear um amigo de adolesc�ncia, que era auxiliar de padeiro da Mercearia e Padaria �Fortaleza do Humait� que ficava na esquina da rua onde eu morava, a quem dava aulas de Aritm�tica. Infelizmente nunca soube o nome dele, pois era apenas conhecido como �Borozinho�, por ser sobrinho do lend�rio �Bor�, brilhante atacante do meu querido Clube do Remo.

Oficialmente, minha atividade de professor ocorreu em mar�o de 1954, justamente quando iniciei o Curso de Engenharia Civil na EEP. Com efeito, indicado pelo saudoso amigo e ent�o aluno dessa Escola, Jofre Alves Lessa [e meu colega no antigo Servi�o Municipal de Estradas de Rodagem (SMER)], fui ser professor de Matem�tica a uma turma do quarto ano do Curso Secund�rio no extinto Col�gio �Abraham Levy�, de propriedade da estimada Professora Alice Antunes (j� falecida). Logo no ano seguinte, fui convidado pela referida Professora para ensinar F�sica, ao alunado do Curso Cient�fico. Em 1957, passei a lecionar essa disciplina no Col�gio Estadual �Paes de Carvalho� (CEPC) e, em agosto de 1961, no ent�o N�cleo de F�sica e Matem�tica (NFM) da Universidade do Par� [hoje Universidade Federal do Par� (UFPA)]. A essas duas �ltimas Institui��es fui indicado pelo amigo-irm�o, Professor Manoel Leite Carneiro. At� o presente momento (fevereiro de 2003), continuo como Professor de F�sica da UFPA.

Nessa atividade de professor, basicamente, exerci aquilo que o saudoso educador brasileiro Paulo Freire define como ensino �banc�rio� em um de seus importantes livros: Pedagogia do Oprimido (Editora Paz e Terra, 1978, 5a Edi��o, sendo a 1a Edi��o de 1970). Vejamos o que diz nesse livro. �A narra��o, de que o educador � o sujeito, conduz os educandos � memoriza��o mec�nica do conte�do narrado. Mais ainda, a narra��o os transforma em `vasilhas�, em recipientes a serem `enchidos� pelo educador. Quanto mais v� `enchendo� os recipientes com seus `dep�sitos�, tanto melhor educador ser�… . Em lugar de comunicar-se, o educador faz `comunicados� e dep�sitos que os educandos, meras incid�ncias, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis a� a concep��o banc�ria da educa��o, em que a �nica margem de a��o que se oferece aos educandos � a de receberem os dep�sitos, guard�-los e arquiv�-los … .�

Nessa concep��o banc�ria da educa��o, em que o professor � o sujeito e o aluno o objeto, h� o velho preceito da F�sica Cl�ssica no qual o sujeito (por exemplo, observador dotado de um aparelho de medida) e o objeto (por exemplo, a posi��o de uma part�cula) s�o distintos, ou seja, a a��o de medir n�o interfere no resultado. Registre-se que esse preceito come�ou a ser questionado, a partir de 1927, com o famoso princ�pio da incerteza Heisenbergiano, segundo o qual, basicamente, o sujeito e o objeto formam uma cadeia dial�tica: sujeito-objeto. Observe-se que hoje essa cadeia � objeto de uma quest�o fundamental na F�sica e, tamb�m, na Ci�ncia de um modo geral, qual seja: a MEDIDA. Voltaremos a essa cadeia mais adiante quando tratarmos da concep��o hol�stica da educa��o.

O �ensino banc�rio�, que recebi e ministrei durante esses anos, foi se adaptando na medida em que a tecnologia evoluiu e alguns de seus resultados incorporaram-se �quele ensino: quadro magn�tico, pincel at�mico, transpar�ncias, multim�dia, internet etc., etc. A essa parafern�lia tecnol�gica, foram tamb�m acrescentados outros recursos did�ticos: lista de exerc�cios, testes mensais, trabalhos para casa, semin�rios etc., etc. Contudo, apesar de tal �inova��o educacional�, ela continua, no meu entendimento, BANC�RIA, uma vez que ainda h� um distanciamento entre o sujeito (professor, como depositante do conhecimento) e o objeto (aluno, como receptor desse mesmo conhecimento). H� alternativa para esse tipo de ensino, perguntar� o leitor? Sim, h�, conforme procurarei demonstrar a seguir.

Essa alternativa, que a chamarei de HOL�STICA, ocorreu-me ao ler um texto de meu amigo, o f�sico brasileiro Jenner Barretto Bastos Filho, no livro intitulado Ci�ncia, �tica e Sustentabilidade (Editora Cortez, UNESCO, CDS-UnB, 2001). Nesse texto, h� uma refer�ncia sobre o conceito de ensinar formulado por Paulo Freire, no livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necess�rios � Pr�tica Educativa (Editora Paz e Terra, 2002, 24a Edi��o). Neste livro, Freire retorna ao tema central de sua vida, formalizado em 1970, qual seja, o de como ensinar, afirmando que: �Saber ensinar n�o � transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produ��o ou a sua constru��o. Quando entro em uma sala de aula, devo estar sendo um ser aberto a indaga��es, � curiosidade, �s perguntas dos alunos, a suas inibi��es; um ser cr�tico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho � a de ensinar e n�o a de transferir conhecimento�.

Analisando essa frase, Jenner destaca: �O que Freire pretendeu ressaltar com isso � que a pr�tica de ensinar jamais poder� ser reduzida a uma mera transfer�ncia similar a de um registro de �gua que pode ser aberto ou fechado a qualquer tempo�. Esse �registro�, em meu entendimento, funciona pela simples a��o do �educador banc�rio�.

Agora, vejamos a alternativa do que proponho: ensino hol�stico. A palavra Hol�stico deriva do grego h�los, que significa �inteiro�, �completo�. Assim, a meu ju�zo, o ensino dever� ser inteiro, completo. Que isso quer dizer?, indagar� novamente o leitor. Quer dizer que o professor em sala de aula dever� formar com o estudante a cadeia dial�tica, sujeito-objeto Heisenbergiano, referida anteriormente. Destaque-se que, na linguagem de Paulo Freire, essa cadeia constitui a do-disc�ncia (doc�ncia-disc�ncia), cujos elos s�o os diversos saberes necess�rios � pr�tica da doc�ncia. Para detalhes desses saberes, consultar o segundo livro de Paulo Freire j� mencionado.

Na minha vida de estudante, um novo elo-saber dessa cadeia eu o conheci (sem ter consci�ncia dele), quando fui aluno do f�sico japon�s Jun�ichi Osada, no ent�o Departamento de F�sica da Universidade de S�o Paulo (USP), em 1969, na disciplina Introdu��o � F�sica das Part�culas Elementares. A prova final que fiz, em junho desse mesmo ano, juntamente com mais dois colegas, Coaracy Malta e Lu�s Carlos Campelo Cruz, foi a seguinte: �Formule e resolva um problema sobre cada uma das intera��es f�sicas: fraca, forte e eletromagn�tica�. Iniciada a prova, por volta das 14 horas, o professor nos entregou um envelope e solicitou que quando a termin�ssemos, coloc�ssemos no envelope e o pass�ssemos por baixo da porta de sua sala de estudos. Disse-nos que poder�amos consultar a biblioteca que ficava no andar t�rreo do pr�dio onde est�vamos e que ter�amos o tempo de que desej�ssemos para conclu�-la. Por volta das 22 horas, terminei a prova, que mereceu do professor Osada, o conceito C. Ao conversar com ele sobre a raz�o desse conceito, disse-me que, das tr�s quest�es que formulei, apenas a relativa � intera��o eletromagn�tica tinha uma certa originalidade, da� o conceito que me atribuiu. Disse-me, tamb�m, que poderia at� trocar o conceito para B, em virtude de eu haver tamb�m formulado e resolvido as duas outras quest�es, mas, no entanto, ela realmente valia C. Aceitei o C!

A partir dessa experi�ncia, sempre que foi poss�vel, conforme reportarei mais adiante, inclui uma quest�o do tipo formule e resolva, valendo 40%, nas provas das disciplinas que ministrei. Objetivava com essa pr�tica, testar apenas a criatividade do estudante, sem pensar na cadeia dial�tica professor-aluno j� referida.

Desse modo, na minha viv�ncia como professor universit�rio, dois novos outros elos-saberes daquela cadeia foram sendo por mim inconscientemente constru�dos. Vejamos como. Desde o in�cio de meu interesse pela evolu��o hist�rico-conceitual da F�sica, que resultaram nos livros por mim escritos sobre esse tema (Cr�nicas da F�sica, Tomos 1-6; Nascimentos da F�sica: 3500AC-1900AD; 1901-1950, editados pela UFPA, respectivamente, nos anos: 1987, 1990, 1992, 1994, 1998, 2002, 1996 e 2000), ilustrei as aulas das v�rias disciplinas espec�ficas de F�sica que ministrei, com aquela evolu��o (ver minhas Notas de Aula sobre T�picos de Eletrodin�mica Cl�ssica, DFUFPA, 2002). E, na medida do poss�vel, relacionei-a com a evolu��o hist�rica de outros temas do conhecimento humano, sempre que minha curiosidade para-F�sica assim o permitia. Desse modo, estava forjando, inconscientemente como referi acima, mais um elo-saber da cadeia dial�tica mencionada at� aqui.

O terceiro novo elo-saber inconsciente dessa cadeia por mim constru�do refere-se ao crit�rio de aprova��o do aluno. Pelo que eu saiba, at� o presente momento, na UFPA (qui��, nas Universidades Brasileiras), esse crit�rio ainda � o do ensino banc�rio, uma vez que o aluno � obrigado a descontar o �cheque� do ensino ministrado pelo professor depositante. Esse �cheque�, sob diversas formas [provas (escritas ou orais), semin�rios, trabalhos, etc.] � �descontado� ou �n�o descontado� pelo professor, caso este considere se h� ou n�o sufici�ncia de �fundo banc�rio� do estudante.

Quando realizei meus estudos de p�s-gradua��o na USP, tive um primeiro contacto com um outro processo de avalia��o do estudante. Trata-se do m�todo Keller. Em 1968, o famoso psic�logo e educador norte-americano Fred S. Keller escreveu o provocante artigo intitulado Goodbye, Teacher, publicado no Journal of Applied Behavior Analysis 1, pg. 1. Esse m�todo (desenvolvido por Keller, com a colabora��o de Gil Sherman, quando Keller esteve no Brasil, na Universidade de Bras�lia, em 1961 e, posteriormente, aplicado na Universidade do Estado do Arizona, na Am�rica do Norte), basicamente, permite ao estudante o seu pr�prio aprendizado em uma determinada disciplina, por�m com a assist�ncia do professor.

Uma variante desse m�todo era aplicada pelo f�sico brasileiro Lu�s Carlos Gomes quando professor da disciplina Introdu��o � Mec�nica Qu�ntica e para a qual usava o Volume III do famoso livro The Feynman Lectures on Physics, editado pela Addison-Wesley Publishing Company, Inc, 1965. Assim, em 1968, quando fui seu aluno-ouvinte nessa disciplina, no come�o de cada aula faz�amos um teste sobre um determinado assunto daquele livro, assunto que dever�amos ter estudado anteriormente. Terminado o teste, o professor o corrigia discutindo com n�s, alunos, os erros e acertos que pratic�ramos. A avalia��o final do curso era feita por ele de acordo com os resultados desses testes e a participa��o de cada estudante durante as discuss�es dos mesmos em sala de aula.

Depois que me tornei um grande amigo daquele mestre, tive oportunidade de conhecer o m�todo, detalhadamente, em reuni�es que ele realizava em sua casa, em 1969. Com a aposentadoria (nesse mesmo ano de 1969, em conseq��ncia do Ato Institucional No 5 (AI-5) de alguns professores da USP, o professor Lu�s Carlos resolveu se transferir para a Universidade de Bras�lia (UnB). E, como j� havia nessa Universidade a pr�tica daquele m�todo (pelo pr�prio Keller, segundo j� registramos), ele discorria sobre a pr�tica que l� adotaria. Ela constava de um Banco de Provas (com respectivos gabaritos-resposta a serem preparados por ele, com aux�lio de alunos-monitores) referente aos v�rios temas de uma determinada disciplina que ministraria. O aluno, ent�o, na medida em que avan�ava no estudo da disciplina, quer assistindo aulas de discuss�o com o professor Lu�s Carlos, quer estudando por si pr�prio, solicitava ao monitor a prova referente ao tema desejado para testar o seu pr�prio aprendizado. O monitor faria a corre��o da prova e, por fim, o aluno discutia com o professor Lu�s Carlos o conceito final da prova que realizara.

Pois bem, quando voltei � UFPA, em julho de 1969, tentei aplicar o m�todo em minhas aulas, o que foi malogrado por absoluta falta de infraestrutura universit�ria para aplic�-lo. Desse modo, passei a adotar o meu pr�prio crit�rio de aprova��o de meus estudantes nas diversas disciplinas que passaria a ministrar. Em tese, eles teriam sempre �fundos� no ensino banc�rio (com tra�os �hol�sticos� inconscientes, que usaria e conforme salientei) que por mim seria lecionado. No entanto, como era obrigado a atribuir um conceito final, realizaria provas tradicionais, com 40% delas constitu�das de uma quest�o do tipo formule e resolva. E assim procedi. Contudo, com a expectativa de criar uma consci�ncia de cidadania (respeito por si pr�prio e pelo cidad�o de um modo geral) em cada estudante, deixei-os fazendo essas provas sem a minha presen�a. Certamente houve �cola� por parte de alguns deles, apesar de saberem de antem�o que os seus �cheques� j� estavam descontados com o �fundo m�nimo�. Entendi e ainda entendo (pois continuo a ensinar dessa maneira) aquele comportamento como parte, creio eu, da natureza humana de querer sempre o m�ximo.

Por fim, perguntar� o leitor: essa cadeia dial�tica at� aqui discutida j� est� completa? N�o, faltam outros elos-saberes que ir�o nela sendo incorporados, na medida em que esse ensino hol�stico for aceito e praticado por outros professores-educadores. � claro que, este ensino s� ser� completo se houver dignidade no tratamento do professor, com melhores sal�rios e condi��es de trabalho, e do aluno, com bolsas de estudo suficientes para o exerc�cio de seu estudo.

Antes de encerrar esse artigo, farei um coment�rio final. Enquanto a pr�tica de ensino fundamental e b�sico (segundo alertou-me meu amigo-irm�o professor Paulo de Tarso Santos Alencar) de Paulo Freire o levou a afirmar que �Ensinar � substantivamente formar� (ver o seu livro Pedagogia da Autonomia, citado anteriormente), a minha pr�tica de ensino universit�rio (gradua��o e p�s-gradua��o), em mais de 40 anos de exerc�cio do magist�rio, me levou a outra afirma��o: ENSINAR � INFORMAR. Este apotegma elaborei ao observar o comportamento posterior de centenas de meus estudantes e o de recordar o que sempre ouvi nas aulas de meu pranteado mestre Angenor Porto Penna de Carvalho (1911-1990), em 1958, na disciplina Portos de Mar, Rios e Canais, na inesquec�vel EEP, na travessa Campos Sales com a rua Senador Manoel Barata, em minha querida Bel�m do Par�: �O aluno n�o deve ignorar aquilo que ignora!� Em s�ntese, aquele apotegma significa para mim, o seguinte: o professor informa ao aluno os aspectos importantes da disciplina que est� ministrando. Cabe a esse, e somente a ele, ignorar ou n�o a informa��o!

Em tempo. Ap�s finalizar este artigo, obtive duas preciosas informa��es. Uma, decorrente da leitura do excelente livro biogr�fico-cient�fico (Geons, Black Holes, and Quantum Foam, W. W. Norton and Company, 1998) do f�sico norte-americano John Archibald Wheeler (n. 1911), e a outra de meu prezado amigo Jenner Bastos, em e-mail que me enviou analisando criticamente o artigo em tela e que previamente o mandara. Essas preciosas informa��es relacionam-se com o pol�mico problema da medida na Mec�nica Qu�ntica. Wheeler afirma que: �Medida, o ato de tornar potencialidade em atualidade, � um ato de escolha, escolha entre poss�veis resultados�. Mais adiante, ele escreve: �As leis da f�sica nos dizem o que apenas pode acontecer. A medida nos diz o que est� acontecendo (ou o que aconteceu). A despeito dessa diferen�a, � razo�vel imaginar que a informa��o (grifo meu) situa-se no caro�o da f�sica�. Em vista disso, formulou o seguinte aforisma: Tudo � Informa��o (�Everything is Information�). Nesta oportunidade, quero fazer um pequeno registro. Minha mulher C�lia, professora de Literatura, ao ler esse artigo, fez o seguinte coment�rio: �Bassalo, Arist�teles, na Arte Ret�rica e Arte Po�tica (Difus�o Europ�ia do Livro, 1964), j� havia observado uma situa��o an�loga a essa descrita por Wheeler. L�, afirmou que a Hist�ria narra o que aconteceu, enquanto a Literatura diz o que poderia acontecer. Desse modo, ser� que, aristotelicamente, podemos dizer que a F�sica faz o papel da Literatura, enquanto a Hist�ria, o da Medida?�. Gostaria que sim, respondi.

Jenner, por sua vez, depois de fazer um precioso estudo sobre o problema da medida em Mec�nica Qu�ntica, concluiu: �Concordando com a id�ia central de Bassalo e tamb�m com a id�ia de que h� muita rela��o sujeito/objeto nessa educa��o hol�stica, acho que a associa��o ao problema da medida em mec�nica qu�ntica � a meu ver inadequada�.

Jenner tem inteira raz�o nessa afirma��o. Nossa discord�ncia � apenas de forma e n�o de fundo, uma vez que a id�ia central (de fundo) da educa��o hol�stica est� por n�s preservada: o professor e o aluno devem formar um ente �nico. E, certamente, a forma de obter esse ente n�o passa pela Teoria da Medida da Mec�nica Qu�ntica, mesmo porque, essa Teoria n�o � um instrumento pedag�gico.

Ainda no e-mail do Jenner, ele diz que tanto Paulo Freire quanto eu estamos certos, uma vez que FORMAR e INFORMAR n�o s�o categorias que se excluem mutuamente, e que, portanto, quem informa est� tamb�m formando. Contudo, desta vez, Wheeler veio em meu socorro, como professor de F�sica, quando coloca a informa��o no centro da F�sica. Por�m, resta uma quest�o: a informa��o � tamb�m o centro de qualquer atividade humana? Creio que sim, mas, deixo ao leitor que reflita sobre essa quest�o. Portanto, Jenner, sendo voc� um de meus generosos leitores, ponha �m�os � obra�.

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1. Artigo publicado em Ci�ncia e Sociedade CBPF-CS-002/03, Maio de 2003.