PODERÁ A D(+) -ADRENALINA AJUDAR NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS?

José Paulo de Oliveira Filho Médico Pós-Graduado em Psiquiatria (PUC) e Terapeuta Ericksoniano[1]José Maria Filardo BassaloDoutor em Física (USP) e Professor Titular Aposentado da UFPA[2]Nelson Pinheiro Coelho de SouzaProfessor de Física da UFPA e do Distrito Unificado de Los Angeles[3]  

                                      Embora a existência de uma relação de causa e efeito entre  emoções e doenças psicossomáticas (manifestação das doenças orgânicas provocadas por problemas emocionais) seja um fato inquestionável, ainda permanece por ser explicado o mecanismo através do qual a emoção influi na cura ou agravamento dessas doenças. Neste artigo, vamos examinar alguns textos de médicos e psicólogos que confirmam o efeito da prevenção (e possível cura) de tais doenças, e conjecturar ser essa a relação de causa e efeito mediada por intermédio de uma substância, D(+) –adrenalina, que é um dos enantiômeros [1] da molécula da adrenalina.                     O médico norte-americano Dean Ornish em um de seus livros [2] apresenta uma série de relatos de sua experiência profissional em mais de vinte anos, bem como a de outros profissionais, nos quais observaram que a “sobrevivência das pessoas depende do poder curador do amor, da intimidade e de seus relacionamentos como indivíduos”. [3]                   Por sua vez, a pensadora e professora norte-americana Louise L. Hay depois de uma experiência pessoal (a cura de um câncer), começou a estudar os padrões que geram as doenças físicas. Assim, por intermédio de conferências, seminários e programas de treinamento, começou a ajudar as pessoas doentes no sentido de entender a sua doença e buscar a cura. O sucesso dessa atividade a levou a escrever, a partir de 1976, uma série de livros, dentre os quais destacamos dois deles, [4] no qual ela mostra a relação entre as doenças e a causa emocional provável delas, assim como sugere uma mudança de postura emocional do doente, basicamente, um novo padrão de pensamento (mente), que lhe ajudará em sua cura (corpo).                    A psicóloga, psicanalista e física brasileira Maria Beatriz Breves Ramos desenvolve um projeto análogo aos dois citados anteriormente. Com efeito, em dois de seus livros [5] ela apresenta a tese de que o ser humano é um ser macromicro e que, ele adoece, quando há um desequilíbrio que se manifesta em nível biológico e em nível psicológico. [6] Em um livro recente, [7] a pesquisadora Maria Beatriz mostra a comprovação de sua tese, ao acompanhar diversos pacientes internados em um hospital-geral, com as mais variadas doenças.                                  Para dar continuidade aos argumentos de nossa conjectura, vejamos algumas informações sobre a adrenalina (C9H13NO3), [8] também conhecida como epinefrina, obtidas nas pesquisas realizadas na Internet por dois dos autores (JMFB e NPCS, com a colaboração do biofísico brasileiro Alan Wilter Sousa da Silva). Ela é um hormônio secretado pelas glândulas supra-renais (localizadas acima dos rins) e, em cada célula dessas glândulas, há cerca de 30.000 pacotes contendo esse hormônio. [9] A adrenalina possui dois enantiômeros: L(-) – adrenalina e D(+) –adrenalina, sendo que a primeira é dez (10) vezes mais potente do que a segunda. [10] Desde muito tempo, são bem conhecidos os efeitos da L(-) – adrenalina nos seres humanos. Por exemplo, quando se alteram as condições que ameaçam a integridade física de uma pessoa (quer fisicamente, quer emocionalmente), ela é lançada na corrente sangüínea, provocando aceleração dos batimentos cardíacos, elevação do nível do açúcar no sangue, minimização do fluxo sangüíneo nos vasos e no sistema intestinal, enquanto maximiza esse fluxo para os músculos voluntários nas pernas e nos braços e “queima” gordura nas células adiposas. Muito embora a L(-) – adrenalina seja usada como anestésico local [11], em emergência médica, [12] não há registro médico de que esse enantiômero da adrenalina possa causar doenças. [13]                                    Por outro lado, desde a década de 1950, começaram a ser estudados, em ratos, os efeitos dos dois enantiômeros da adrenalina. [14,15] Contudo, e-mails trocados entre os autores e alguns cientistas, [13] associado com uma pesquisa intensiva na Internet, indicam que, provavelmente, ainda não houve um teste da D(+) – adrenalina em seres humanos e nem que a mesma seja produzida no corpo humano. Sabe-se, no entanto, que a L(-) – adrenalina em solução é inativada pela racemização, isto é, metade da mesma é transformada em D(+) – adrenalina. [10] É oportuno registrar que a racemização de enantiômeros é gerada pela interação das moléculas L(-) ou D(+) com as moléculas do meio onde elas estão imersas [16].                                  Agora, vejamos a conjectura proposta neste artigo. O efeito curador da emoção, provavelmente por uma ação bioquímica, também foi vivenciado por um dos autores (JPOF). Com efeito, ele sofria de uma hiperacidez gástrica que o atormentava bastante. Certo dia, depois de alguns saltos de pára-quedas, percebeu
que ficara curado da hiperacidez. Como médico terapeuta, com mais de vinte anos de prática, fez a pergunta óbvia: o que teria acontecido? Ele então começou a refletir sobre o acontecido e, intuitivamente, percebeu que tal resultado havia sido conseqüência dessa sua experiência com o pára-quedismo. Portanto, para ele, a prática de pára-quedismo reproduzia em tudo algumas técnicas que ele havia estudado em sua vida de médico terapeuta, tais como: psicologia Tibetana budista, mas especificadamente, a técnica de morte e renascimento do ego.[17] Além disso, JOPF acrescentou suas leituras dos rituais de passagem dos cultos Xâmanicos. Em vista destas reflexões, JPOF concluiu que no pára-quedismo se vive exatamente a mesma experiência. Desse modo, um pára-quedista ao se lançar da porta de um avião para o salto, é como se estivesse saltando para a morte, independentemente de ele saber da segurança desse esporte. No entanto, os “macaquinhos” de seu inconsciente não o sabem. No salto, observou JPOF, o pára-quedista está vivendo o mito de
Ícaro que traduz o desejo ancestral de voar do ser humano, para finalmente renascer das cinzas como o mito da Phoenix.                    A indescritível sensação a cada salto (confirmadas em conversas com diversos pára-quedistas que haviam sentido que os saltos praticados haviam transformado sua vida), levou JPOF a conjecturar que cada salto deve provocar reações bioquímicas, que conduzem àquela sensação.[18] Em vista disso, passou a aplicar essa técnica, com resultados esplendidos, a alguns de seus pacientes com transtornos psicológicos, tais como: timidez patológica, luto, algumas fobias, depressão reativa, ansiedade e dependentes químicos. Em vista dos bons resultados conseguidos, ocorreu-lhe a idéia de que tais resultados deviam-se ao fato de que aqueles pacientes experenciaram emoções nunca antes sentidas. Aí, então, JPOF se perguntou o que estava acontecendo com a descarga das glândulas adrenais que antecede cada salto? Seguramente não eram endomorfinas, observou. Para ele, provavelmente, uma forma de adrenalina, diferente da então conhecida (“adrenalina amarga”, segundo ele), denominada também por ele de “adrenalina doce”, poderia “anular” (racemizar) o efeito da primeira, desde que o paciente entendesse e controlasse suas emoções. E, desse modo, ele conseguiria prevenir as doenças psicossomáticas. Com essa idéia em mente, ele conversou com um dos autores (JMFB), que lhe chamou a atenção sobre os enantiômeros, principalmente sobre o famoso caso da talidomida. [19] A partir daí, os autores começaram a desenvolver a seguinte conjectura:                                       Quando uma pessoa recebe um choque emocional, há uma descarga de L(-) – adrenalina na corrente sangüínea. E, em seu fluxo, as moléculas começam a interagir, com algumas delas transformando-se em D(+) – adrenalina. Em condições emocionais normais, o percentual de D(+) – adrenalina permanece baixo, a exemplo do que ocorre in vitro. No entanto, dependendo do controle emocional da pessoa em questão, poderá haver um aumento daquele percentual e, com isso, ocorrer uma inativação de L(-) em virtude da racemização, pela qual metade de L(-) é transformada em D(+). Desse modo, essa inativação poderá prevenir uma doença psicossomática decorrente apenas da L(-).                       AGRADECIMENTOS                    Agradecemos a leitura crítica de Alan Wilter Sousa da Silva, José Perilo da Rosa Neto, Maria Beatriz Breves Ramos, Mauro Sérgio Dorsa Cattani e Pedro Leon da Rosa Filho.                       

NOTAS E REFERÊNCIAS [1] Entre 1848 e 1850, o químico francês Louis Pasteur estudou os cristais de ácido racêmico (da palavra latina racemus, que significa uva), com o auxílio de um microscópico. Com efeito, ao observar esses cristais, Pasteur verificou haver dois tipos deles, sendo um a imagem em espelho (especular) do outro. Registre-se que Pasteur obtinha esses cristais a partir de uma solução que não girava o plano de polarização da luz que incidia sobre os mesmos e, imediatamente, imaginou ser a mistura 50% x 50% (racemização) de dois tipos de cristais a explicação da inatividade óptica observada. Desse modo, com a ajuda de pinças, separou, cuidadosamente, os cristais em dois montículos e, ao passar novamente a luz polarizada através dos mesmos, percebeu que um deles girava o plano de polarização da luz em sentido horário e o outro em sentido anti-horário. Observou ainda ser uma das duas formas do ácido racêmico idêntica ao ácido tartárico (C4H6O6). Em vista disso, classificou as moléculas que compunham os cristais estudados em dois tipos: mão-esquerda ou levógira [L(-)] e mão-direita ou dextrógira[D(+)]. [Hoje, essas moléculas conhecidas como quirais (da palavra grega keir, que significa mão) são denominadas de enantiômeras e são de dois tipos: L(-) -enantiômera (L de levógira) e D(+) – enantiômera (D de dextrógira).] Na continuação de suas pesquisas nas quais observou as relações entre a assimetria molecular e os microorganismos, Pasteur convenceu-se de que a química da vida apresentava uma preferência pela quiralidade de certas moléculas, e que, portanto, havia uma distinção clara entre matéria viva e matéria morta. Essa convicção levou-o a apresentar perante a Academia Francesa de Ciências sua célebre conjectura: O Universo é Dissimétrico. Com o decorrer dos anos essa conjectura de Pasteur mostrou-se verdadeira e, no Século 20, o desenvolvimento da Ciência revelou que essa assimetria do Universo ocorre em todos os níveis, do microscópico ao macroscópico, sobretudo no que se refere à química da vida. Para mais informações sobre as formas enantioméricas de moléculas orgânicas e inorgânicas, ver: BASSALO, J. M. F.  e CATTANI, M. S. D. 1995. Contactos 10, p. 20; Revista Brasileira de Ensino de Física 17, p. 224.    

[2] ORNISH, D. 1998. Amor & Sobrevivência: A Base Científica para o Poder Curativo da Intimidade, Editora Rocco. [3] Esse poder curador é baseado na tese da médica norte-americana Candace B. Pert, segundo a qual, não há distinção entre corpo e mente e, por isso, os dois formam o sistema corpomente, de modo que as emoções estão inextricavelmente ligadas à fisiologia.  

[4] HAY, L. L. 2002. Cure seu Corpo: As Causas mentais dos Males e o Modo Metafísico de Combatê-los, Editora Best Seller; ——–. 2005. Você pode Curar sua Vida: Como Despertar Idéias Positivas, Superar Doenças e Viver Plenamente, Editora Best Seller.  [5] RAMOS, M. B. B. 1998. Macromicro: A Ciência do Sentir, Editora Mauad; ———-. 2001. O Homem além do Homem, Editora Mauad. 

[6] Segundo Ramos, quando uma pessoa recebe um choque emocional (entra em ressonância com uma outra pessoa), o seu complexo macromicro vibra fortemente e provoca um desequilíbrio biológico, que se traduz por uma alteração no nível somático (doença) [7] RAMOS, M. B. B. 2005. A Fronteira do Adoecer: O Sentir e a Psicossomática, Editora Mauad. (Este livro teve a colaboração da psicóloga brasileira Ana Helena Vieira Winter.) 

[8] A adrenalina foi descoberta, independentemente, por quatro pesquisadores: o médico norte-americano William Horatio Bates, em 1886; o fisiologista polonês Napoleon Cybulski, em 1895; o bioquímico norte-americano John Jacob Abel, em 1897; e o bioquímico japonês Jokichi Takamine, em 1901, quem, aliás, cunhou seu nome: ad (prefixo latino que significa proximidade), renal (relativo aos rins, “renalis” em latim) e ina (sufixo aplicado a algumas substâncias químicas). Ela foi artificialmente sintetizada, em 1904, pelo químico alemão Friedrich Stolz.    [9] http:/www.med.wayne.edu/pharm/artalejo.htm 

[10] SÄNGER-VAN DE GRIEND, C. E., EK, A. G., WIDAHL-NÄSMAN, M. E. and E. K. M. ANDERSSON, E. K. M. 2006. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis 41, p. 77; http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=17619295; htpp://www3.interscience.wiley.com/cgibin/abstract/107583907/ABSTRACT?CRETRY=1&SRETRY=0. [11] STEPENSKY, D., CHORNY, M., DABOUR, Z. and SCHUMACHER, I. 2003. Journal of Pharmaceutical Sciences

93, p. 969. [12] LE COUTEUR, P. 2006; KAUMANN, A. 2006. Comunicação por e-mail.   [13] MANDELBAUM, F., O. B. HENRIQUES, O. B. and HENRIQUES, S. B. 1956. Nature 178, p. 363. 

[14] BERNHEIMER, H., EHRINGER, H., HEISTRACHER, P., und KRAUPP, O. 1960. Boichemische Zeistchrift 332, p. 416. [15] RICE, P. J., MILLER, D. D., SOKOLOSKI, T. D. and PATIL, P. N. 1989. Chirality

1, p. 14.  [16] CATTANI, M. and TOMÉ, T. 1993. Origins of Life and Evolution of the Biosphere  23, p. 125.   [17] Registre-se que essa prática, por ser tão eficaz, foi ocidentalizada por outras correntes psicológicas como a Gestalt, a psicologia transpessoal e a emergência espiritual. [Sobre esta última ver: GROF, S. e GROF, C. (Organizadores) 1995. Emergência Espiritual: Crise e Transformação Espiritual, Editora Cultrix.] 

[18] Outros resultados sobre os efeitos orgânicos em pára-quedistas podem ser encontrados nos sítios: http://www.pnas.org/cgi/reprint/91/22/10440?maxtoshow=&HITS=10&hits=10&RESULTFORMAT=&searchid=1&FIRSTINDEX=0&minscore=5000&resourcetype+HWCIT;http://www.springerlink.com/content/xx69127j52210621/;  http://www.ncbi.mlm.nih.gov/sites/entrez?cmd=Retrieve&db=PubMed&list_uids=8647351&dopt=Abstract  [19] Graças a quiralidade das moléculas enantioméricas foi possível explicar o famoso caso da talidomida (C13H10N2O4). Vejamos como. Na Europa, particularmente na Inglaterra e na Alemanha, entre 1956 e 1963, foi observado que as gestantes que usavam um certo xarope (que continha a talidomida), indicado para tosses e que, também era prescrito para reduzir a náusea, estava provocando o nascimento de milhares de crianças deformadas. Retirado do mercado, o xarope passou a ser estudado. Descobriram então que era a forma D-enantiomérica da talidomida que curava a náusea, enquanto a forma L-enantiomérica provocava os defeitos no feto. Do mesmo modo, estudos posteriores mostraram que a eficácia da penicilina-G (C16H18N2O4S) (a primeira das penicilinas foi descoberta, em 1928, pelo bacteriologista escocês Sir Alexander Fleming) contra as bactérias resultava do fato de que estas, excepcionalmente, utilizam-se de D-aminoácidos na construção de suas paredes celulares, e a penicilina contém um grupo de L-aminoácidos e que interfere com a síntese das paredes celulares das bactérias. [BASSALO e CATTANI (1995).]


[1] josepauloof@hotmail.com

[2] bassalo.com.br

[3]

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