ENEM: SIM OU NÃO?

Em trabalho realizado em 2009, examinei as 15 Questões de Física do ENEM (Caderno Azul), cujos enunciados longos (com “pegadinhas”), às vezes confusos (por desatenção do formulador) desviam a atenção do aluno (que já está estressado, por inúmeras razões) do objetivo da Questão, que é o de encontrar a alternativa correta, dentre as cinco (5) propostas. Em vista disso, constatei que onze (11) das questões, apresentavam algum tipo de dificuldade nas alternativas (mais de uma resposta certa; alternativas trocadas; e falta de informações adicionais no enunciado para encontrar a resposta). Daí, então, afirmei que é a relação entre Ciência e Tecnologia tomada como mote fundamental das Provas do ENEM, o motivo que provoca tais desatenções. Naquela ocasião, usei uma sugestão apresentada pelo físico cearense José Evangelista de Carvalho Moreira, do Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará, qual seja, a de reduzir (talvez a um terço) o número de Questões, e solicitar que o aluno justifique a escolha que fez da alternativa considerada por ele como correta.

Como o ENEM (com a mesma estrutura) se transformou em uma maneira de entrar nas Universidades Públicas Brasileiras, foram criados no Brasil vários Cursinhos que preparam alunos para esse Exame Nacional de Ensino Médio. Recentemente, tive oportunidade de examinar uma questão formulada por um desses Cursinhos e verifiquei uma nova dificuldade para o aluno encontrar a alternativa certa. Eis a questão: – A desintegração de uma substância radioativa é um fenômeno químico modelado pela fórmula q = 10 . 2kt, onde q representa a quantidade de substância radioativa (em gramas) existente no instante t (em horas). Quando o tempo t é igual a 3,3 horas, a quantidade existente q vale 5. Então, o valor da constante k é: (A) – 35/5; (B)- 33,3; (C) – 5/33; (D) – 10/33; (E) – 100/33.

Para resolver essa questão, o caminho usado pelo aluno que conhece a Teoria de Logaritmos (log) e domina a operação de potências, é o de usá-las. Então, virá: 5 = 10 . 23,3k ou, simplificando, resultará: 1 = 2. 23,3k = 2 (1 + 3,3 k). Calculando o logaritmo (na base 2) dessa expressão, obteremos: (log2) 1 = (log2) [2 (1 + 3,3 k)]. Como ele sabe que o log de 1 em qualquer base é 0 e que o log da base elevado a qualquer expoente é o valor do expoente, então: 0 = (1 + 3,3) k e, portanto: k = – 1/3,3 que corresponde à alternativa: D = (- 10/33) (que é uma “pegadinha”).

Porém, outro aluno (que não domina o log, mas conhece a operação de potências), resolverá essa questão usando a lógica das equações (a solução de uma equação sempre a satisfaz) e, com um pouco de expertise (talento), olha para as alternativas e verifica que a única que satisfaz o problema é a D, pois um pequeno contorno sobre a “pegadinha” toma-a como – 1/3,3 e a coloca na equação. Resulta então que: 1 = 20 = 2[1 + (3,3).(-1/3,3)] = 2(1 – 1) = 20 = 1. Como a equação foi satisfeita, o problema está resolvido.

O que acabamos de descrever mostra que o tradicional “marcar a alternativa correta” do ENEM [e mesmo com uma possível condição de justificar a resposta, o que oneraria muito a preparação do “gabarito”, uma vez que deverá conter os caminhos (no mínimo 2, como mostramos neste artigo) que levam a encontrar a alternativa correta] continua, no meu entendimento, com os mesmos problemas que destaquei quando fiz o artigo [Caderno Brasileiro de Ensino de Física 28, p. 325 (2011)] sobre o ENEM/2009 e registrados no início deste artigo. Portanto, para mim, a resposta a pergunta-título continua sendo NÃO, já que não avalia o real conhecimento do aluno.

O que fazer então, perguntará o leitor? Para mim, essa estrutura do ENEM tem que ser modificada, porém, não é fácil realizar essa reestruturação, pois o ENEM se estendeu para todo o Brasil. Essa é uma questão que os educadores brasileiros têm que enfrentar com seriedade. Se não, a resposta será: SIM.

 

 

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