MR. CLYDE SKEETE FAZ 100 ANOS

PERFIS

MR. CLYDE SKEETE FAZ 100 ANOS

“Artigo parcialmente publicado em O Liberalde 27 de julho de 2009.”

No dia 24 de julho de 2009, o Professor Robert Clyde Skeete completou cem anos de idade. Neste artigo, farei um pequeno resumo de sua vida e de nossa fraterna amizade. Para isso, usarei o depoimento escrito de sua filha Gladys (gentilmente cedido a mim) e registros de minha memória. Meu estimado amigo Professor Skeete, nasceu em La Fargue Choiseul, cidade de Castries, capital de Saint Lucia, antiga colônia britânica (hoje independente), situada no Caribe. Seus pais Nathaniel Thomas Skeete, marceneiro, e Sarah Evelina Skeete, de prendas domésticas, eram proprietários de uma grande área de terra localizada à beira-mar. Depois de concluir seus estudos, em 1932, tendo em mente sua determinação de difundir e ensinar inglês, determinação essa que aprendeu com seu irmão primogênito Nottage (que fundara uma escola em Castries), pegou um navio e chegou a nossa querida Belém, sendo recebido pelo casal Mr.e Mrs. James, amigo de seus pais. Como não sabia nenhuma palavra de português, procurou aprendê-lo e, para exercitá-lo, conversava com seus colegas de trabalho em uma fábrica de cordas, na qual trabalhava para manter-se.

Sendo anglicano, logo que se estabeleceu em Belém, passou a frequentar a  igreja dos Ingleses, a então Pará Anglican Church (hoje Igreja Episcopal Anglicana do Brasil), localizada na Avenida Serzedelo Corrêa, 514 (na qual, aliás, no dia 24, ocorreu a Celebração de Ação de Graças pelo Centenário de Mestre Skeete). Sendo um ativo participante dessa Igreja, teve oportunidade de conhecer Alberta Beatrice Burnett (Vita), paraense filha de ingleses (James e Carlota Burnett) com quem se casou na Véspera do Natal de 1936. Desta feliz união, que durou até a morte de sua estimada Vita, em 1975, nasceram oito filhos (seguindo a tradição de seus pais que também tiveram oito filhos): Ionie Agatha, Evelina Alberta, Arthur Winston, Dorothy Elizabeth, Daisy Nadyr (falecida), Gladys Margaret, James Nathaniel e Martha Helen. Essa sua prole, deu-lhe nove netos e oito bisnetos. Hoje, Mr. Clyde mora na Avenida Conselheiro Furtado, número 929, aqui em nossa querida Belém, com seus três filhos: Evelina, Gladys e James. Os quatro outros, moram em: Santarém (Ionie), Natal (Arthur), Rio de Janeiro (Martha) e Nova York (Dorothy).

Ainda segundo o depoimento de Gladys, o Professor Skeete começou sua bela saga de professor, inicialmente ministrando aulas particulares e, em virtude da amizade que foi adquirindo com esses alunos, foi se impondo como grande mestre da língua inglesa e, por isso, foi logo convidado a lecionar no tradicional Colégio Moderno, dos irmãos Serra (Oswaldo e Augusto) e da Professora Maria Annunciada Ramos Chaves, todos já falecidos. Sua atuação como bom professor, levou seu ex-aluno particular, o saudoso professor e advogado Cecil Augusto de Bastos Meira, a indicá-lo, em 1947, para ocupar a Cátedra de Língua e Literatura Inglesa, no Colégio Estadual “Paes de Carvalho”, o lendário CEPC, na qual foi efetivado depois de ser aprovado no então Exame de Suficiência, em 1963, já que havia se tornado cidadão brasileiro nesse mesmo ano. Registre-se que o Professor Skeete também lecionou no Colégio D. Romualdo de Seixas, estabelecimento que era da rede particular de ensino, assim como foi um dos pioneiros no hoje badalado Ensino a Distância, uma vez que, na década de 1950, ministrava aulas de inglês na Rádio Clube do Pará (PRC-5), dirigida por seu ex-aluno particular, o jornalista Edgar Proença, um de seus padrinhos de casamento.

Quando seu ex-aluno particular Jarbas Gonçalves Passarinho, então Governador do Estado do Pará criou, em 1965, o Colégio Estadual “Augusto Meira”, lembrou-se de seu velho mestre de inglês e o indicou para fazer parte do primeiro corpo docente desse Colégio, onde atuou como Professor de Inglês, até se aposentar em outubro de 1980, com a idade de 71 anos.

Dentre os vários alunos que teve oportunidade de ensinar, quer particularmente, quer nos Colégios em que ensinou, muitos deles tiveram papel de destaque no Pará. Por exemplo, segundo destaca sua filha Gladys, foram seus alunos (além dos já citados): Alonso Rocha (poeta e Membro da Academia Paraense de Letras), Álvaro Adolfo (Senador), Adriano e Armando de Queiroz Santos (cartorários), Armando Morelli (médico), Aurélio Alves do Ó (professor universitário), Aurélio do Carmo (Governador), Avertano Rocha (advogado), Bernardino Santos (jornalista), Camilo, Nelson e Adib Nasser (empresários), Francisco Carrapatoso (comerciante), Inocêncio Mártires Coelho (professor universitário e Procurador Geral da República), João Maranhão (jornalista), João Menezes (Deputado Federal), os irmãos Fontes do Nascimento: João Sérgio (médico) e Paulo Sérgio (professor universitário e engenheiro civil), Milton Nobre (desembargador e Membro do Conselho Nacional de Justiça), Nelly Cecília Soares Paiva (professora universitária e Membro da Academia Paraense de Letras), Orlando Fonseca (advogado), Otávio Meira (professor universitário e advogado) e seus filhos Alcyr (professor universitário, engenheiro civil e arquiteto) e Paulo Rúbio Meira (professor universitário e Procurador da República), Paulo de Tarso Santos Alencar (professor universitário), Pedro Cruz Galvão de Lima (poeta e publicitário), Pedro Smith do Amaral (engenheiro civil), Ricardo Borges (desembargador), Renato de Castro Cardoso (médico), Rider Brito (Ministro do Supremo Tribunal do Trabalho), Sílvio Samuel Moreira Aflalo (engenheiro civil), os irmãos Souza Pereira: Eduardo (engenheiro) e Geraldo (médico); Ubirajara Moreira Rodrigues de Souza (Procurador Federal), Ubiratan Aguiar (jornalista e advogado), Vítor Pires Franco (comerciante), Zaíra César Santos Passarinho (comerciante) e Zeno Veloso (professor universitário e jurista).

Depois de apresentar um breve resumo biográfico do Mestre Skeete, passarei a destacar alguns aspectos de minha relação de amizade com este marido, pai, avô e bisavô exemplar, íntegro e honrado mestre de várias gerações de paraenses. Conheci meu estimado amigo Professor Skeete, em 1952, quando fui seu aluno de Literatura Inglesa, no CEPC, no segundo ano do Curso Científico. Como estava interessado em estudar Engenharia Civil, me dediquei mais às disciplinas que faziam parte do Vestibular: Desenho, Física, Matemática e Química. Em vista disso, fui, em sua disciplina, um aluno médio, pois minha nota final de aprovação foi 4,96. Porém, esse meu fraco desempenho em suas aulas não impediu que, quando nos encontramos, agora como professores, nesse mesmo CEPC, a partir de 1957, ele me tratasse com grande distinção e amizade. A partir daí, a amizade com o Professor Skeete foi se fortalecendo cada vez mais.

Creio ser oportuno registrar que essa amizade se estendeu aos seus filhos e sua saudosa esposa Vita, principalmente a Evelina, a Mana Lina, como a chama minha mulher Célia (também aluna do Professor Skeete), sua colega de aula em 1957, quando fui professor de Física da turma do Curso Clássico, que ambas frequentavam. Aliás, é também interessante destacar ser a Mana Lina muito importante na minha vida junto com a Célia, pois, na ocasião em que fui professor delas, comecei a gostar da Célia (sem esta saber) e, a Mana Lina, diversas vezes dizia para a Célia: Acho que o “Kgf” (meu apelido no CEPC) gosta de ti, pois ele não para de te olhar. Suponho que outras conversas entre essas duas grandes amigas, foram fundamentais para eu pedir o número do telefone dela (1246, anotado em um livro de exercícios de Física, até hoje guardado em minha biblioteca) para marcarmos o primeiro encontro, ainda em 1957. Namoramos, casamos (1962) e estamos juntos até hoje.

Ainda é interessante destacar que a amizade com o Professor Skeete e sua família, levou a Gladys, ex-funcionária do Tribunal Regional do Trabalho (8a Região), a ter sempre um carinho especial com o meu saudoso sogro, Professor Machado Coelho, também ex-funcionário desse Tribunal, chamando a sua atenção sobre os benefícios que meu sogro tinha direito, mesmo já não mais trabalhando naquele local, já era sempre requisitado a servir em outros órgãos públicos, como a Universidade Federal do Pará e os Governos Estaduais. Aliás, Mestre Skeete sempre teve um carinho particular com os filhos de meu sogro, principalmente meu cunhado, o engenheiro mecânico Ronaldo Coelho, chamando-o sempre de Mr. Rabbit.

Por fim, para concluir esta singela homenagem ao centenário de meu estimado amigo Robert Clyde Skeete, quero destacar que, apesar de eu haver deixado de lecionar no CEPC, em 1966, sempre ele me chamava para resolver qualquer problema ligado à engenharia em suas duas casas (primeiro na Rua Braz de Aguiar e mais tarde na Avenida Conselheiro Furtado), dada à alta confiança que ele depositava em mim, muito embora eu tenha deixado de ser engenheiro civil, desde que decidi me dedicar ao estudo da Física, na Universidade de Brasília, em 1965, e na Universidade de São Paulo, em 1968-1969. Não posso finalizar este artigo, sem fazer uma referência especial à sua estimada Vita que, quando ia à casa dela, a chamado de seu querido esposo, sempre me tratava com a mais alta distinção.

Professor Skeete, obrigado por conhecê-lo e por me ter como um de seus grandes amigos. Que o bom Deus, conforme diz sua filha Gladys, continue derramando bênçãos sobre esse homem secular, que, através da oferta de sua vida à educação, soube conquistar o respeito e a admiração dos seus contemporâneos, deixando atrás de si um exemplo de vigor e um rastro pontilhado de trabalho, trabalho e trabalho.